Dirceu dita as regras e cobra Lula de dentro da cadeia

Ex-ministro queixa-se sobre a forma como Lula administrou o escândalo do mensalão. E acredita que o episódio pode interferir na campanha de reeleição de Dilma.

José Dirceu se entrega na sede da Polícia Federal, em São Paulo
José Dirceu se entrega na sede da Polícia Federal, em São Paulo (Ivan Pacheco).
Preso em uma cela de 6 metros quadrados, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela forma como ele administrou até agora o escândalo do mensalão. A insatisfação com Lula foi manifestada por Dirceu a pelo menos três amigos que o visitaram, nos últimos dias, no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, onde ele está preso desde o dia 16 de novembro. 

Irritado com a falta de posicionamento do Planalto, Dirceu perguntou: "E o Lula não vai falar nada?". Mesmo de dentro da prisão, Dirceu pressionava o ex-presidente a fazer um pronunciamento. Três dias depois do recado dado, Lula fez o mais veemente discurso desde que os petistas foram condenados. Sugeriu, na quinta-feira passada, que o rigor da lei só vale para o PT e dirigiu ataques ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.

Irritação – Dirceu está contrariado com a falta de posicionando do ex-presidente. E a irritação não vem de hoje. Na visão do ex-ministro-chefe da Casa Civil, a falta de uma posição clara de Lula em defesa dos mensaleiros pode abalar a imagem do PT e interferir na campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Interlocutores de Dirceu afirmam que ele sempre reprovou a forma "conciliatória" como Lula conduziu o caso desde que o escândalo estourou, em junho de 2005.

Em conversas mantidas dentro da cela, no presídio da Papuda, Dirceu tem dito que Lula errou ao não fazer o "enfrentamento" necessário para não deixar a denúncia de corrupção virar um fantasma que abala o PT e o governo. Para Genoino, os condenados no mensalão não têm escapatória, mesmo se conseguirem reduzir suas penas, pois perderam a batalha da comunicação. "Estamos marcados como gado", resumiu Genoino a um amigo.

Na avaliação de Dirceu, Lula deixou a CPI dos Correios prosperar, em 2005, quando ainda teria condições de barrá-la. Por esse raciocínio, ao não politizar a denúncia da compra de votos no Congresso, Lula abriu caminho para a "criminalização" do PT. O partido até hoje insiste que nunca corrompeu deputados em troca de apoio e só admite a prática do caixa dois.

Influência - Arquiteto da campanha que levou o PT ao Palácio do Planalto em 2003, Dirceu revelou que Lula chegou a consultá-lo sobre a nomeação de Luiz Fux para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal. "Se você está dizendo que sim, quem sou eu para dizer que não?", disse Dirceu, segundo relato de amigos, antes de ser procurado por Fux, que pediu sua ajuda para conquistar o cargo.

Fux acabou nomeado em 2011 por Dilma. Petistas juram que ele prometeu "matar no peito" a acusação, em sinal claro de que absolveria os réus petistas. Quando Fux deu o voto pela condenação dos mensaleiros, o espanto no governo e no PT foi generalizado.

Num café da manhã com Dirceu, em novembro de 2010, Lula prometeu que, quando estivesse fora do Planalto, desmontaria a "farsa do mensalão". A promessa não foi cumprida sob a alegação de que era preciso blindar o primeiro ano do governo Dilma. Depois vieram as disputas municipais de 2012 e agora o ano é pré-eleitoral. E a insatisfação de Dirceu com Lula continua. 

Fonte: (Com Estadão Conteúdo)

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