Milhões tentaram, mas só milhares conseguiram. As
primeiras fases de venda de entradas para o Mundial criaram uma legião
de torcedores decepcionados.
Cadeiras do novo Maracanã, no Rio de Janeiro. |
O professor de educação física Tiago Negrão, de Sorocaba, São Paulo, estava ciente do tamanho do desafio. Em sua tentativa de garantir um ingresso da Copa do Mundo de 2014, pensou em várias alternativas de jogos, inscreveu-se no site da Fifa
dentro do prazo e torceu. No início do mês, a Fifa, entidade
responsável pelo maior e mais badalado evento esportivo do mundo,
sorteou 889.300 ingressos, depois de receber 6,2 milhões de pedidos, de
203 países ou regiões. Negrão, de 25 anos, não foi contemplado. “Não
importava a seleção a que eu assistiria”, disse. “Iria somente pelo
prazer de acompanhar um evento dessa magnitude no Brasil.” Na última
segunda-feira, dia 11, veio mais uma chance. A Fifa iniciou a segunda
fase de venda, com 229 mil entradas. Desta vez, quem chegasse primeiro
ao sistema de compras levaria o prêmio. A página abriu às 9 horas.
Negrão entrou pouco depois e ficou preso numa fila virtual. Frustrado
com as dificuldades do sistema de vendas da Fifa, às 13h20 ele desistiu.
Tinha de trabalhar – é funcionário da prefeitura de Sorocaba. “Agora,
acho que só vou se o Felipão me convocar.”
Negrão não está sozinho. Como um reluzente lago no meio do deserto, que com a proximidade perde nitidez, foco e finalmente desaparece, o ingresso para a Copa de 2014 é para muitos uma miragem. “Sabemos que seremos obrigados a decepcionar uma multidão de torcedores fervorosos”, afirma Thierry Weil, diretor de marketing da Fifa. Na primeira rodada de venda, aberta a torcedores do mundo todo, 71,5% dos ingressos foram comprados por residentes no Brasil. Os americanos ficaram em segundo lugar, com mais de 66 mil entradas. Em seguida, vieram torcedores de Inglaterra, Alemanha, Austrália, Canadá e França. Da Argentina, apenas 4.493 torcedores já conseguiram seu passaporte para o torneio. Segundo Weil, a Copa brasileira já pode ser considerada a mais procurada da história. O Mundial da Alemanha, em 2006, recebeu 8 milhões de pedidos, 2 milhões a mais que o do Brasil, mas suas vendas começaram dois anos antes. “Mesmo se tivéssemos o triplo de ingressos, ainda ficaríamos aquém de satisfazer todos”, diz Weil.
Negrão não está sozinho. Como um reluzente lago no meio do deserto, que com a proximidade perde nitidez, foco e finalmente desaparece, o ingresso para a Copa de 2014 é para muitos uma miragem. “Sabemos que seremos obrigados a decepcionar uma multidão de torcedores fervorosos”, afirma Thierry Weil, diretor de marketing da Fifa. Na primeira rodada de venda, aberta a torcedores do mundo todo, 71,5% dos ingressos foram comprados por residentes no Brasil. Os americanos ficaram em segundo lugar, com mais de 66 mil entradas. Em seguida, vieram torcedores de Inglaterra, Alemanha, Austrália, Canadá e França. Da Argentina, apenas 4.493 torcedores já conseguiram seu passaporte para o torneio. Segundo Weil, a Copa brasileira já pode ser considerada a mais procurada da história. O Mundial da Alemanha, em 2006, recebeu 8 milhões de pedidos, 2 milhões a mais que o do Brasil, mas suas vendas começaram dois anos antes. “Mesmo se tivéssemos o triplo de ingressos, ainda ficaríamos aquém de satisfazer todos”, diz Weil.
Quem saiu vitorioso da batalha por ingressos comemora. O piauiense
Bruno Cavalcante, de 21 anos, estagiário do Google em São Paulo,
encontrou o lago no deserto e já se prepara para cair na água. Foi
sorteado na primeira fase de vendas e comprou cinco ingressos para
partidas na capital paulista, um pacote que inclui quatro da primeira
fase e um de semifinal. “Conheço quem tentou nove vezes e não
conseguiu.” Na terça-feira, dia 12, ainda restavam alguns ingressos do
segundo lote, para seis dos 64 jogos da Copa. Eles se dividiam entre as
sedes de Cuiabá, Mato Grosso, e Manaus, Amazonas – as entradas para os
jogos em São Paulo e no Rio de Janeiro esgotaram em três horas. “O
pessoal aqui do trabalho já está apelando para esses jogos”, dizia
Cavalcante. Durou pouco. No dia seguinte, já estavam esgotados.
A Fifa não respondeu aos pedidos de ÉPOCA para explicar possíveis
problemas em seu sistema de vendas. O próprio sucesso de Cavalcante pode
ter apresentado erros técnicos. Ele recebeu, no dia 8 de novembro, um
boleto virtual para pagar as entradas, dois dias antes de receber da
Fifa uma confirmação de que fora sorteado. “Achei que fosse um vírus ou
uma pegadinha.”
Quem segue vagando pelo deserto ainda tem chances de realizar seu sonho. A Fifa iniciará uma terceira fase de venda em 8 de dezembro, após o sorteio dos grupos. Estarão disponíveis ingressos para todas as partidas, incluindo a abertura, em São Paulo, e a final, no Maracanã. “Tentarei comprar de novo, mas não acredito que dê certo”, diz Negrão. “Perdi a esperança.” Brasileiro é assim mesmo. Pode perder a esperança – mas não desiste nunca.
Quem segue vagando pelo deserto ainda tem chances de realizar seu sonho. A Fifa iniciará uma terceira fase de venda em 8 de dezembro, após o sorteio dos grupos. Estarão disponíveis ingressos para todas as partidas, incluindo a abertura, em São Paulo, e a final, no Maracanã. “Tentarei comprar de novo, mas não acredito que dê certo”, diz Negrão. “Perdi a esperança.” Brasileiro é assim mesmo. Pode perder a esperança – mas não desiste nunca.
Fonte: Época
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