Ingresso da Copa: Um objeto de desejo e frustração

Milhões tentaram, mas só milhares conseguiram. As primeiras fases de venda de entradas para o Mundial criaram uma legião de torcedores decepcionados.
 
PARA POUCOS Cadeiras do novo Maracanã, no Rio de Janeiro. Mais de 6 milhões tentaram garantir um assento para ver o Mundial  (Foto: Marcelo Fonseca/Brazil Photo Press/LatinContent/Getty Images)
Cadeiras do novo Maracanã, no Rio de Janeiro.
O professor de educação física Tiago Negrão, de Sorocaba, São Paulo, estava ciente do tamanho do desafio. Em sua tentativa de garantir um ingresso da Copa do Mundo de 2014, pensou em várias alternativas de jogos, inscreveu-se no site da Fifa dentro do prazo e torceu. No início do mês, a Fifa, entidade responsável pelo maior e mais badalado evento esportivo do mundo, sorteou 889.300 ingressos, depois de receber 6,2 milhões de pedidos, de 203 países ou regiões. Negrão, de 25 anos, não foi contemplado. “Não importava a seleção a que eu assistiria”, disse. “Iria somente pelo prazer de acompanhar um evento dessa magnitude no Brasil.” Na última segunda-feira, dia 11, veio mais uma chance. A Fifa iniciou a segunda fase de venda, com 229 mil entradas. Desta vez, quem chegasse primeiro ao sistema de compras levaria o prêmio. A página abriu às 9 horas. Negrão entrou pouco depois e ficou preso numa fila virtual. Frustrado com as dificuldades do sistema de vendas da Fifa, às 13h20 ele desistiu. Tinha de trabalhar – é funcionário da prefeitura de Sorocaba. “Agora, acho que só vou se o Felipão me convocar.”

Negrão não está sozinho. Como um reluzente lago no meio do deserto, que com a proximidade perde nitidez, foco e finalmente desaparece, o ingresso para a Copa de 2014 é para muitos uma miragem. “Sabemos que seremos obrigados a decepcionar uma multidão de torcedores fervorosos”, afirma Thierry Weil, diretor de marketing da Fifa. Na primeira rodada de venda, aberta a torcedores do mundo todo, 71,5% dos ingressos foram comprados por residentes no Brasil. Os americanos ficaram em segundo lugar, com mais de 66 mil entradas. Em seguida, vieram torcedores de Inglaterra, Alemanha, Austrália, Canadá e França. Da Argentina, apenas 4.493 torcedores já conseguiram seu passaporte para o torneio. Segundo Weil, a Copa brasileira já pode ser considerada a mais procurada da história. O Mundial da Alemanha, em 2006, recebeu 8 milhões de pedidos, 2 milhões a mais que o do Brasil, mas suas vendas começaram dois anos antes. “Mesmo se tivéssemos o triplo de ingressos, ainda ficaríamos aquém de satisfazer todos”, diz Weil.

Quem saiu vitorioso da batalha por ingressos comemora. O piauiense Bruno Cavalcante, de 21 anos, estagiário do Google em São Paulo, encontrou o lago no deserto e já se prepara para cair na água. Foi sorteado na primeira fase de vendas e comprou cinco ingressos para partidas na capital paulista, um pacote que inclui quatro da primeira fase e um de semifinal. “Conheço quem tentou nove vezes e não conseguiu.” Na terça-feira, dia 12, ainda restavam alguns ingressos do segundo lote, para seis dos 64 jogos da Copa. Eles se dividiam entre as sedes de Cuiabá, Mato Grosso, e Manaus, Amazonas – as entradas para os jogos em São Paulo e no Rio de Janeiro esgotaram em três horas. “O pessoal aqui do trabalho já está apelando para esses jogos”, dizia Cavalcante. Durou pouco. No dia seguinte, já estavam esgotados.

A Fifa não respondeu aos pedidos de ÉPOCA para explicar possíveis problemas em seu sistema de vendas. O próprio sucesso de Cavalcante pode ter apresentado erros técnicos. Ele recebeu, no dia 8 de novembro, um boleto virtual para pagar as entradas, dois dias antes de receber da Fifa uma confirmação de que fora sorteado. “Achei que fosse um vírus ou uma pegadinha.”

Quem segue vagando pelo deserto ainda tem chances de realizar seu sonho. A Fifa iniciará uma terceira fase de venda em 8 de dezembro, após o sorteio dos grupos. Estarão disponíveis ingressos para todas as partidas, incluindo a abertura, em São Paulo, e a final, no Maracanã. “Tentarei comprar de novo, mas não acredito que dê certo”, diz Negrão. “Perdi a esperança.” Brasileiro é assim mesmo. Pode perder a esperança – mas não desiste nunca. 

Fonte: Época

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