Brasília - No Brasil, 12% das adolescentes de 15 a 19 anos tinham pelo menos um filho em 2010, segundo o relatório anual Situação da População Mundial
do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), organismo da
Organização das Nações Unidas (ONU), lançado esta semana. Neste ano, o
tema é Maternidade Precoce: Enfrentando o Desafio da Gravidez na
Adolescência. No país, o texto aponta que adolescentes pobres, negras ou
indígenas e com menor escolaridade tendem a engravidar mais que outras
adolescentes.
A taxa é menor entre as jovens mais novas. Dados de 2009 mostram que
2,8% das adolescentes de 12 a 17 anos eram mães. "A taxa de natalidade
de adolescentes no Brasil pode ser considerada alta dadas as
características do contexto de desenvolvimento brasileiro", diz o
relatório. Para essas jovens, a gravidez, na maior parte das vezes
indesejada, representa o afastamento da escola e do mercado de trabalho,
além da possibilidade de ter complicações de saúde relacionados à
gravidez ou ao parto.
"Além de se afastarem da escola, essas jovens não estão preparadas
para cuidar do bebê, que acaba sendo cuidado pela mãe e pela avó. Essa
criança não tem, em geral, as condições de um desenvolvimento adequado. A
mãe acaba tendo o próprio futuro e o da criança prejudicados", avalia o
professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), Vicente Faleiros,
autor de estudos sobre adolescentes e políticas públicas. Ele aponta
outro problema. "Longe da escola, essa menina tende a engravidar outras
vezes", o que dificulta ainda mais a inserção nas escolas e no mercado.
Cristina Rodrigues Sousa e Tássia Portela são jovens que passaram
pela experiência de se tornarem mães antes dos 19 anos. Ambas tiveram
que deixar os estudos para se dedicar aos filhos.
Tássia tem 22 anos e está desempregada. Ela teve o primeiro filho
com 17 anos e teve que criá-lo sozinha. "O meu filho vai fazer 5 anos em
dezembro. O pai dele morreu quando ele tinha 10 meses, foi bem difícil.
Foi em um acidente de carro. Eu morava com minha mãe". Ela começou a
fazer uma faculdade, mas não terminou. Hoje, diz que não trocaria o
momento que vive. "Você abre mão de certas coisas pra poder cuidar da
criança. Apesar de ser nova, sou bem responsável e acho que sou uma boa
mãe", disse Tássia.
Já Cristina engravidou aos 18. Atualmente tem 28 anos e estuda. Ela
diz que chegou a trabalhar, mas que "não deu muito certo". "Foi muito
difícil. No início entrei em depressão, pois minha vida havia mudado
completamente. Ao invés de estar cursando uma faculdade, trabalhando,
mas ali estava eu, com um filho. Não dormia mais, não tinha tempo de
comer nem de arrumar a casa, roupas de bebê empilhada para lavar e
passar", disse Cristina. Com o passar do tempo, ela conta que
amadureceu.
No entanto, ainda lembra da experiência de contar sobre a gravidez
para o pai. "Meu pai sempre foi muito durão em relação a isso, não tive
muita instrução sobre sexualidade. Como contar para o meu pai que eu
estava grávida? Havia terminado recentemente o ensino médio, não
trabalhava, e nem o pai do meu filho. Fiquei sem chão".
Faleiros diz que a situação é recorrente. "Muitos pais não estão
preparados para orientar os filhos". O professor acrescenta que, nos
últimos quatro anos, observou mudanças nas políticas públicas
brasileiras. Segundo ele, elas estão mais voltadas para uma atenção
específica ao jovens e ao contexto em que estão inseridos, o que é
positivo. "Não basta só olhar a barriga da jovem, tem que olhar o
contexto, a relação com o pai da criança, que também tem que ser
conscientizado. O país já está considerando a adolescente como pessoa,
apesar de ainda ter o que melhorar", analisa.
Fonte: Agência Brasil
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