"Se o Lula não for o candidato, porque pode ser também que ele seja o
candidato do PT. Se o partido perceber que existe risco maior com a
Dilma, não tenha dúvida que eles vão recorrer ao Lula, mesmo que ele não
queira e a Dilma não queira. ex-governador fala
ainda da pré-candidatura do senador Aécio Neves e da ida de Marina Silva
para o PSB do governador de Pernambuco e presidenciável Eduardo Campos.
Agora, ela sendo candidata, eles vão recorrer ao Lula como principal cabo eleitoral"; falou José Serra. |
O 'eterno candidato' José Serra continua a dar mostras de que ainda
não desistiu da ideia de representar o PSDB na disputa pela presidência
da República em 2014. Exemplo de tal determinação é sua movimentação
Brasil a fora com agenda que vai de palestras em juntas comercais a
visitas a unidades públicas de saúde, que fez na Bahia em dois meses.
Com discurso de candidato, o tucano voltou a disparar artilharia
pesada contra o governo da presidente Dilma Rousseff e contra o
ex-presidente Lula, a quem se refere como "o criador do que está aí".
Serra disse em entrevista ao jornal Tribuna da Bahia na edição desta
segunda-feira (28) que Lula ainda não é descartado como candidato do PT
em 2014. Isso aconteceria, segundo o tucano, se o PT percebesse que há
"muito risco" na candidatura de Dilma.
"Se o Lula não for o candidato, porque pode ser também que ele seja o
candidato do PT. Se o partido perceber que existe risco maior com a
Dilma, não tenha dúvida que eles vão recorrer ao Lula, mesmo que ele não
queira e a Dilma não queira. Agora, ela sendo candidata, eles vão
recorrer ao Lula como principal cabo eleitoral. O Lula vai ter que
explicar o que está acontecendo no Brasil, pois é um dos grandes
responsáveis, porque ele fez a Dilma candidata e de certa maneira a
elegeu, tendo que prestar contas disso".
O ex-governador de São Paulo esteve em Salvador
na última quinta-feira para participar de um encontro, organizado pela
Associação Baiana de Supermercados (Abase), com empresários do ramo e de
outros segmentos, além de profissionais liberais.
Ele também disse no evento e repetiu em entrevista à Tribuna que seu
nome não está descartado para ser o candidato do PSDB em 2014 e, em
relação ao senador Aécio Neves, foi ríspido: "Não estou fazendo campanha
para ninguém".
Abaixo os principais trechos e a entrevista completa do tucano à Tribuna da Bahia.
O senhor está em campanha pelo PSDB para 2014?
Não. Não estou em campanha eleitoral, nem campanha para ninguém.
Estou naquele trabalho permanente que é procurar entender as coisas que
acontecem no Brasil e passar isso para as pessoas, inclusive apontar
caminhos. Eleição a gente vai ver no ano que vem. Estou convencido de
que a antecipação do processo eleitoral é um grande prejuízo para o
País. A Dilma teve quatro anos de mandatos e passou dois anos perplexa
com a herança do governo anterior do qual ela participou e dois anos
fazendo campanha e isso cria uma situação inconveniente para o Brasil.
Acho que tem tempo para mais adiante.
Falou-se muito em sua mudança de partido. O que o levou ao movimento de permanecer no PSDB?
Não. Na verdade não foi um movimento. Eu simplesmente permaneci no
PSDB. Não foi uma decisão. A decisão teria sido se fosse para sair, mas é
o partido que eu fundei, sendo um dos fundadores, um dos redatores
originais do seu programa, eu e o Fernando Henrique na época, enfim,
toda a minha vida pública transcorreu no PSDB, e eu vou dá batalha pra o
que eu quero para o Brasil dentro do partido.
Diante disso, o senhor vai disputar a indicação do partido para ser candidato do partido em 2014 com o senador Aécio Neves?
Olha o que nós combinamos é que a decisão sobre candidatura só será
tomada depois de março, então vamos aguardar até lá. Lá a gente vê.
A respeito da pesquisa do Ibope, um dos cenários indica
apenas o senhor no segundo turno. Isso obriga o PSDB a reavaliar a
estratégia de colocar Aécio como candidato?
Pesquisa a essa altura é um retrato muito provisório do que pode
acontecer no ano que vem. Tem muito tempo ainda para se chegar até lá.
Acho que pesquisa é interessante olhar, se você me mostra uma pesquisa
vou ficar curioso em olhar, mas acho que temos que dar tempo para que as
coisas decantem, para que todo mundo seja mais conhecido e batalhar
menos pela pesquisa e mais pela informação que a população brasileira
precisa a respeito da natureza, da origem dos problemas que ela tem e
como enfrentá-los.
O senador Aécio Neves se coloca como candidato natural do
PSDB à Presidência, no entanto ele tem conseguido encarnar a postura de
principal opositor ao governo Dilma Rousseff. Como o senhor avalia essa
questão?
Olha, a questão toda foi a antecipação do processo eleitoral. Falta
um ano para a eleição. É muito difícil que alguém, independentemente de
quem seja, consiga encarnar essa ou aquela alternativa. Ainda falta
muito tempo pra isso. Não dá para avaliar a posição de nenhum dos
pré-candidatos ou possíveis candidatos hoje em dia como reflexo daquilo
que poderá acontecer mais adiante. Vai ter muito tempo para que todos se
exponham e contribuam para o debate no Brasil e para firmar suas
candidaturas.
Dois governadores do PSDB, o Marcone Perilo e o Anastasia,
disseram que a fila andou no PSDB quando questionados sobre uma possível
candidatura do senhor em 2014. Como o senhor avalia esse movimento
interno?
Eu não vi essas declarações. É uma posição deles. Tenho muito
respeito pela posição de todos os militantes do PSDB, incluindo os
governadores.
O senhor acredita que a decisão por prévias ajudaria a oxigenar o partido?
A partir de março do ano que vem a gente vai ver isso.
Foi cogitada uma chapa puro-sangue do PSDB. O senhor acha essa estratégia viável?
É muito prematuro dizer isso. Ao mesmo tempo tem as alianças, ou
seja, vai depender dos aliados, do que eles reivindiquem. Em política é
assim. Além disso, é muito prematuro dizer isso. Não tem nem candidato,
imagine vice. Isso vai demorar tempo ainda.
O Partido Democratas vai manter a parceria com o PSDB em 2014
com a indicação de um vice ou pode marchar em um projeto novo com o
governador Eduardo Campos (PSB)?
Eu acho que eles acompanham e, se Deus quiser, vão acompanhar. Tenho a
impressão de que o Democratas se aliará ao PSDB em 2014, e se
reivindicar o lugar de vice terá toda a legitimidade para fazê-lo. Mas,
tudo ainda é muito prematuro.
O senhor tem uma marca de gestor. Diante disso, o que pode
levar da experiência que adquiriu em sua vida pública a partir de agora,
já que está começando a intensificar as visitas pelo País?
Eu acho que o Brasil quer mudança, quer mudar de verdade. Em 2010, o
sentimento de mudança era menor porque a economia estava crescendo
muito, nos meses da eleição 10% ao ano, massa salarial, empregos,
crédito ao consumo e mesmo assim no segundo turno eu tive 44%. Hoje o
desejo de mudança é muito mais intenso e generalizado. Agora, mudar pra
quê? A contribuição é dizer quais são os problemas, qual é o meu
diagnóstico, qual é o diagnóstico sobre as questões nacionais e quais
são as soluções que se apresentam. O que o próximo presidente vai
encontrar na mesa como problemas e por onde deve ir, desde a área da
saúde, passando pela educação, o comércio exterior, o treinamento de
qualificação? Tem muita coisa a esse respeito que precisa ser mostrada e
debatida. Uma coisa é certa, não dá para ficar empurrando o País com a
barriga como vem sendo feito, desde que o Lula deixou o governo. A
partir da sucessão, o Brasil ficou sem um governo ativo. Como eu já
disse, o atual governo ficou dois anos perplexo com a herança e dois
anos fazendo campanha. É preciso pegar os problemas de frente.
Um erro e um acerto do governo Dilma Rousseff (PT)?
Olha os erros foram muitos e os acertos poucos. É muito difícil fazer
a classificação, mas eu diria que a questão mais grave do governo Dilma
foi não conseguir, por um lado, retomar os investimentos em
infraestrutura, na área pública e, por outro lado, melhorar os costumes
na política que, pelo contrário, pioraram, a exemplo do loteamento, a
partidarização do Estado, a utilização do governo como um instrumento
partidário para si e para seus aliados. Eu diria que virtude, talvez, no
caso da presidente, ela se esforce para fazer as coisas direito, mas
não consegue. Esforço só não basta. Você precisa saber fazer e saber
qual a prioridade, e isso o governo não sabe.
O senhor acredita que será colocada em xeque a capacidade gerencial do PT de governar o País?
Sem dúvida nenhuma. O desejo de mudanças vai colocar isso no centro
dos acontecimentos, agora, o que vai acontecer nas urnas só Deus sabe.
Acredito que existe uma fadiga crescente do PT no País, agora é obvio
que as pessoas vão julgar pelo que acham do governo do PT e a esperança
em outra opção. Quer dizer, você tem que ser capaz de oferecer essa
outra opção, se não as pessoas vão preferir ficar aonde estão.
Sobre a união entre a ex-senadora Marina Silva e o governador
Eduardo Campos, líder nacional do PSB. Como o senhor viu essa junção de
forças que até então não dialogavam com uma intensidade tão grande?
Eu vi com grande surpresa. Acho que surpreendeu a todos, o próprio
Eduardo Campos. É o inesperado, e a história está cheia de fatos
inesperados que na verdade mudaram o seu rumo. Agora, o que vai
acontecer também não dá pra prever. Se alguém vier aqui dizendo pra você
o que vai acontecer é porque está por fora. Ainda vão acontecer muitas
coisas que ninguém está prevendo e eu não sei quais são essas coisas. Se
eu soubesse elas não seriam inesperadas.
Isso vai influenciar na escolha do candidato do PSDB à Presidência?
Olha, são muitas variáveis. Como eu disse, é um debate que vai
acontecer a partir de março, já que existe um acordo de que a definição
aconteça a partir daí.
Caso a ex-senadora Marina seja a cabeça de chapa, há
expectativa de que ela encarne o desejo das ruas de moralidade e de zelo
com o dinheiro público. Por sua vez, Eduardo Campos assumiria a postura
de gestor, que é o que ele agrega à própria imagem. O senhor acredita
que isso dificulta para o PT e para o PSDB na eleição?
Eu não sei, porque depende de quem será o candidato, se o Eduardo
mesmo ou a Marina , que é uma hipótese que se levanta. Vai depender
também do transcurso da campanha, da sustentação, do desenvolvimento das
imagens e das posições que se apresentam. Por enquanto, está muito no
plano genérico. Isso vai ter que ganhar mais corpo ao longo de uma
campanha. Se você me perguntar eu não sei o que vai acontecer com a
aliança de Eduardo e Marina.
Qual o cenário que o senhor prevê para o Brasil em 2014?
Olha, vejo um cenário desgastante para a população. Não vejo a
economia crescendo muito, não vejo a inflação caindo, o emprego
crescendo fortemente, nem o consumo crescendo como estava no passado,
mas também não estou vendo nenhuma queda de precipício. Eu acho que o
quadro vai tender a ficar como está, só que levemente pior.
O senhor acredita que a estratégia do PT será colar a presidente Dilma na imagem do ex-presidente Lula?
Não tenho dúvidas. Se o Lula não for o candidato, porque pode ser
também que ele seja o candidato do PT. Se o partido perceber que existe
risco maior com a Dilma, não tenha dúvida que eles vão recorrer ao Lula,
mesmo que ele não queira e a Dilma não queira. Agora, ela sendo
candidata, eles vão recorrer ao Lula como principal cabo eleitoral. O
Lula vai ter que explicar o que está acontecendo no Brasil, pois é um
dos grandes responsáveis, porque ele fez a Dilma candidata e de certa
maneira a elegeu, tendo que prestar contas disso.
A presidente Dilma não tem densidade para mobilizar o País novamente?
A prova de que o PT acha o Lula fundamental é que ele está se
tornando fundamental nesta campanha. Se a Dilma não precisasse,
dispensaria essa mobilização dele.
Qual a estratégia principal do PSDB para se colocar como uma força viável para 2014?
A meu ver, é saber mostrar as causas da insatisfação que existe com
relação à política, à economia, ao desenvolvimento do Brasil, ter a
solução e convencer de que é capaz de fazer diferente.
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