Eliana Pedrosa e Celina Leão: surpreendidas pela mudança de versão de Daniel Tavares, distritais apelaram à PF para sustentar denúncias contra Agnelo. |
As acusações de que o governador Agnelo Queiroz (PT) teria recebido propina de um lobista quando era diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) provocaram uma guerra de versões e acirraram ontem os ânimos na Câmara Legislativa durante todo o dia. Distritais da base e da oposição se apegaram a depoimentos totalmente antagônicos prestados por uma mesma testemunha. O denunciante é Daniel de Almeida Tavares, 35 anos, que há duas semanas contou uma história comprometendo Agnelo. O relato foi gravado por duas deputadas da oposição. Ontem, no entanto, em outro vídeo, o delator voltou atrás. Em função da divergência, o caso foi parar na Polícia Federal. A filmagem feita pelas distritais foi entregue à PF no fim da tarde.
Com suas duas versões, Daniel Tavares tornou-se o pivô da crise que expõe o governo. No último dia 23, o ex-funcionário da União Química — empresa de medicamentos — esteve na casa de Eliana Pedrosa (PSD), no Lago Sul. Segundo a deputada, o lobista a procurou para fazer denúncias contra o governador. Daniel foi recebido na residência da distrital, em um domingo. Eliana conta também que chamou Celina Leão (PSD) para ouvir o denunciante, já que a colega preside a Comissão de Ética da Câmara Legislativa.
A conversa entre Daniel e Celina foi gravada pelas deputadas, que entregaram ontem o vídeo de 33 minutos à Polícia Federal. Na gravação, o lobista acusa Agnelo de receber propina e dá detalhes de como ocorriam os supostos pagamentos. Ele ainda apresenta um comprovante de transferência eletrônica para a conta corrente de Agnelo, no valor de R$ 5 mil. “O Fernando (Marques, dono da União Química) me entregou R$ 50 mil para repassar a ele, só que eu só repassei R$ 45 mil e tive que fazer uma viagem até Goiânia (GO). Então ficaram faltando R$ 5 mil e ele (Agnelo) me ligou 500 vezes me cobrando esses R$ 5 mil. Eu estava em Goiânia e fui obrigado a fazer uma transferência eletrônica”, disse às distritais.
O próprio governador admitiu que recebeu dinheiro na conta corrente repassado por Daniel. Ele sustenta, no entanto, que se trata da devolução de empréstimo ao lobista. Três dias depois de a quantia ter sido paga a Agnelo, então diretor da Anvisa, a União Química foi beneficiada com um parecer assinado pelo hoje governador e publicado no Diário Oficial da União.
PronunciamentoDaniel teria, segundo relatam as distritais, se comprometido a dar um depoimento formal à Comissão de Ética da Câmara Legislativa na última segunda-feira. Ele, no entanto, não apareceu na Casa. O lobista alegou por meio do advogado estar doente. Ontem, teve início uma guerra de versões. De manhã, o líder do PT, Chico Vigilante, disse a várias pessoas que faria um pronunciamento que comprovaria a armação da oposição contra Agnelo.
Na tribuna, Vigilante fez discurso combativo contra as colegas de oposição. Acusou Celina e Eliana de terem oferecido dinheiro a Daniel para que assinasse um depoimento feito sob medida para prejudicar o governador. Chico Vigilante disse que reproduzia declarações do próprio denunciante e distribuiu um vídeo em que o lobista apresenta uma nova versão. “Essas denúncias forjadas revelam o submundo da política no DF.”
Na filmagem em que não há registro de autoria, Daniel não explica a mudança de comportamento. Em 2 minutos e 36 segundos, ele diz e repete que é amigo de longa data de Agnelo. “Ninguém sabe da amizade que eu tenho com ele desde 1998. Ele sempre me ajudou. Isso foi uma quantia que tinha me ajudado, numa fase em que eu estava em dificuldades. Assim que eu tive condições, ressarci o dinheiro em uma transferência bancária. Não tem nada a ver com outra coisa. É simplesmente um dinheiro que ele me emprestou e eu tinha que pagar para ele”.
Daniel ainda relatou ter sido procurado por algumas pessoas, sem dizer o nome, que lhe teriam oferecido dinheiro. “Não quero favorecimento de ninguém, inclusive várias pessoas de Brasília e de fora me ofereceram para falar contra o governador Agnelo. Eu não fiz isso. Conheço ele desde 1998, pelo PCdoB”, afirmou o lobista.
Celina e Eliana reagiram às declarações de Vigilante e à mudança de versão de Daniel. Eliana negou a acusação de que teria oferecido pagamento em troca do testemunho do lobista. Mas afirmou na tribuna que Daniel pediu dinheiro e emprego para assinar o depoimento que atacava Agnelo. “Estou disposta a participar de uma acareação seja onde for, na Polícia Federal, na Polícia Civil do DF ou no Ministério Público”, afirmou Eliana.
Foro especialApós a sessão, Celina e Eliana seguiram para a PF. As distritais pediram à superintendente, Silvana Helena Vieira Borges, a abertura de investigação sobre as denúncias de Daniel. Elas entregaram o vídeo e a cópia do comprovante de transferência, em 2008, de R$ 5 mil da conta do lobista para a de Agnelo. Como o governador tem foro especial, a investigação só pode ser iniciada com a permissão do Superior Tribunal de Justiça. Segundo Celina, a PF precisa identificar por que Tavares mudou de versão em tão pouco tempo. “Ou ele está se sentindo ameaçado, foi coagido ou foi comprado. É preciso saber com quem ele esteve de ontem para hoje e com quem falou.”
O recuo de Daniel tirou da letargia a base de apoio de Agnelo. Tanto na esfera local, quanto na federal, os aliados resolveram aparecer para defender o petista. O líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Teixeira, declarou confiança “na seriedade de Agnelo”. “Os grupos políticos e econômicos que mancharam a imagem da capital da República e levaram o DF à derrocada não querem deixar Agnelo governar, usando diariamente ardis calúnias e métodos inaceitáveis para dificultar sua administração”, afirmou o petista.
Quatorze partidos de sustentação do governador também se posicionaram com uma nota. “A administração responsável e transparente de Agnelo e Filippelli não pode ser alvo e ficar refém de acusadores cujo único objetivo é paralisar a instituição governamental e impedir os avanços pelos quais a sociedade brasiliense tanto lutou”. Assinam a nota PT, PMDB, PSB, PCdoB e outros 10 partidos.
Sem comparaçãoO procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também deu uma declaração que foi utilizada pelo governo em sua defesa. Ao analisar a atual crise, ele disse que a situação é muito diferente do escândalo envolvendo José Roberto Arruda — que perdeu o cargo de governador depois da Operação Caixa de Pandora — disse: “Estamos, sim, apurando quais irregularidades poderiam ser de responsabilidade do atual governador do DF, mas o quadro tem elementos, por enquanto, que não se assemelham de forma alguma com aquele que tivemos no passado”.
Com suas duas versões, Daniel Tavares tornou-se o pivô da crise que expõe o governo. No último dia 23, o ex-funcionário da União Química — empresa de medicamentos — esteve na casa de Eliana Pedrosa (PSD), no Lago Sul. Segundo a deputada, o lobista a procurou para fazer denúncias contra o governador. Daniel foi recebido na residência da distrital, em um domingo. Eliana conta também que chamou Celina Leão (PSD) para ouvir o denunciante, já que a colega preside a Comissão de Ética da Câmara Legislativa.
A conversa entre Daniel e Celina foi gravada pelas deputadas, que entregaram ontem o vídeo de 33 minutos à Polícia Federal. Na gravação, o lobista acusa Agnelo de receber propina e dá detalhes de como ocorriam os supostos pagamentos. Ele ainda apresenta um comprovante de transferência eletrônica para a conta corrente de Agnelo, no valor de R$ 5 mil. “O Fernando (Marques, dono da União Química) me entregou R$ 50 mil para repassar a ele, só que eu só repassei R$ 45 mil e tive que fazer uma viagem até Goiânia (GO). Então ficaram faltando R$ 5 mil e ele (Agnelo) me ligou 500 vezes me cobrando esses R$ 5 mil. Eu estava em Goiânia e fui obrigado a fazer uma transferência eletrônica”, disse às distritais.
O próprio governador admitiu que recebeu dinheiro na conta corrente repassado por Daniel. Ele sustenta, no entanto, que se trata da devolução de empréstimo ao lobista. Três dias depois de a quantia ter sido paga a Agnelo, então diretor da Anvisa, a União Química foi beneficiada com um parecer assinado pelo hoje governador e publicado no Diário Oficial da União.
PronunciamentoDaniel teria, segundo relatam as distritais, se comprometido a dar um depoimento formal à Comissão de Ética da Câmara Legislativa na última segunda-feira. Ele, no entanto, não apareceu na Casa. O lobista alegou por meio do advogado estar doente. Ontem, teve início uma guerra de versões. De manhã, o líder do PT, Chico Vigilante, disse a várias pessoas que faria um pronunciamento que comprovaria a armação da oposição contra Agnelo.
Na tribuna, Vigilante fez discurso combativo contra as colegas de oposição. Acusou Celina e Eliana de terem oferecido dinheiro a Daniel para que assinasse um depoimento feito sob medida para prejudicar o governador. Chico Vigilante disse que reproduzia declarações do próprio denunciante e distribuiu um vídeo em que o lobista apresenta uma nova versão. “Essas denúncias forjadas revelam o submundo da política no DF.”
Na filmagem em que não há registro de autoria, Daniel não explica a mudança de comportamento. Em 2 minutos e 36 segundos, ele diz e repete que é amigo de longa data de Agnelo. “Ninguém sabe da amizade que eu tenho com ele desde 1998. Ele sempre me ajudou. Isso foi uma quantia que tinha me ajudado, numa fase em que eu estava em dificuldades. Assim que eu tive condições, ressarci o dinheiro em uma transferência bancária. Não tem nada a ver com outra coisa. É simplesmente um dinheiro que ele me emprestou e eu tinha que pagar para ele”.
Daniel ainda relatou ter sido procurado por algumas pessoas, sem dizer o nome, que lhe teriam oferecido dinheiro. “Não quero favorecimento de ninguém, inclusive várias pessoas de Brasília e de fora me ofereceram para falar contra o governador Agnelo. Eu não fiz isso. Conheço ele desde 1998, pelo PCdoB”, afirmou o lobista.
Celina e Eliana reagiram às declarações de Vigilante e à mudança de versão de Daniel. Eliana negou a acusação de que teria oferecido pagamento em troca do testemunho do lobista. Mas afirmou na tribuna que Daniel pediu dinheiro e emprego para assinar o depoimento que atacava Agnelo. “Estou disposta a participar de uma acareação seja onde for, na Polícia Federal, na Polícia Civil do DF ou no Ministério Público”, afirmou Eliana.
Foro especialApós a sessão, Celina e Eliana seguiram para a PF. As distritais pediram à superintendente, Silvana Helena Vieira Borges, a abertura de investigação sobre as denúncias de Daniel. Elas entregaram o vídeo e a cópia do comprovante de transferência, em 2008, de R$ 5 mil da conta do lobista para a de Agnelo. Como o governador tem foro especial, a investigação só pode ser iniciada com a permissão do Superior Tribunal de Justiça. Segundo Celina, a PF precisa identificar por que Tavares mudou de versão em tão pouco tempo. “Ou ele está se sentindo ameaçado, foi coagido ou foi comprado. É preciso saber com quem ele esteve de ontem para hoje e com quem falou.”
O recuo de Daniel tirou da letargia a base de apoio de Agnelo. Tanto na esfera local, quanto na federal, os aliados resolveram aparecer para defender o petista. O líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Teixeira, declarou confiança “na seriedade de Agnelo”. “Os grupos políticos e econômicos que mancharam a imagem da capital da República e levaram o DF à derrocada não querem deixar Agnelo governar, usando diariamente ardis calúnias e métodos inaceitáveis para dificultar sua administração”, afirmou o petista.
Quatorze partidos de sustentação do governador também se posicionaram com uma nota. “A administração responsável e transparente de Agnelo e Filippelli não pode ser alvo e ficar refém de acusadores cujo único objetivo é paralisar a instituição governamental e impedir os avanços pelos quais a sociedade brasiliense tanto lutou”. Assinam a nota PT, PMDB, PSB, PCdoB e outros 10 partidos.
Sem comparaçãoO procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também deu uma declaração que foi utilizada pelo governo em sua defesa. Ao analisar a atual crise, ele disse que a situação é muito diferente do escândalo envolvendo José Roberto Arruda — que perdeu o cargo de governador depois da Operação Caixa de Pandora — disse: “Estamos, sim, apurando quais irregularidades poderiam ser de responsabilidade do atual governador do DF, mas o quadro tem elementos, por enquanto, que não se assemelham de forma alguma com aquele que tivemos no passado”.
Fonte: CorreioWeb
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