Em várias ruas do Recanto das Emas, os moradores estão entregues aos bandidos. Foto: ROBERVAL EDUÃO |
Em lugares dominados pelo tráfico de drogas, quem tem medo de represalias não são os bandidos ou traficantes, mas sim os moradores e trabalhadores da região. Os criminosos tomam conta dos lugares onde atuam e não se intimidam nem mesmo com a presença da polícia, isso quando há polícia. Em algumas áreas do Recanto das Emas, por exemplo, a vizinhança assiste a venda e o consumo de drogas impassível. Já em Santa Maria os traficantes e a disputa pelos pontos de tráfico aterrorizam a todos os moradores.
Na Quadra 601 do Recanto das Emas, a ação de traficantes costuma ocorrer em uma rua que fica em frente ao Conjunto 8. “A movimentação ocorre até durante o dia, só que é mais disfarçado. À noite é que a droga rola solta”, disse Maria(*)que já perdeu as esperanças da situação mudar. “Eu mesma já denunciei para polícia e para a imprensa, mas as coisas nunca mudam”, complementa.
Em um comércio que fica a alguns metros do local indicado pelos moradores, todo mundo negou a existência do tráfico. A pressão sofrida pela comunidade é evidente, por isso todos evitavam falar sobre o assunto. Nas pessoas entrevistadas pela reportagem, foi possível ver o medo estampado no rosto de cada um. Roberta(*) estava levando os filhos para a escola e, quando foi questionada sobre o tráfico na vizinhança, hesitou em dar maiores informações, se lomitando apenas a dizer que ela e sua família sofrem uma pressão muito grande. Neste momento, a equipe de reportagem percebeu que dois homens dentro de um carro branco estavam atentos à conversa. O mesmo veículo perseguiu o carro da reportagem até a saída da cidade.
De acordo com Alexandre Nogueira, delegado chefe da 27ª Delegacia de Polícia do Recanto das Emas, nesta área da cidade o grande número de usuários de drogas é confundido com tráfico. “A população às vezes tem uma falsa impressão de que o tráfico é forte no local onde mora, quando na verdade, o número de usuários é que é grande demais”, justificou. Para ele, o problema da 601 não é relacionado à falta de trabalho da polícia, mas sim a um problema social, que deve ser corrigido com a mudança de leis. “Como a pessoa que só usa drogas não pode ser presa e tem um tratamento completamente diferenciado pela lei, a população acaba se sentindo à mercê dos usuários”, argumentou.
O delegado disse, ainda, que, “como para o usuário sustentar o vício, ele necessita de dinheiro, isso faz com que aumente o número de furtos e roubos na região, o que também interfere no combate ao trafico”, finalizou.
Mudar de cidade para fugir do crime
Na QR 205 de Santa Maria, o medo constante na rotina dos moradores é o mesmo. Segundo relatos da própria comunidade, o perigo aumentou tanto nos últimos meses que a quantidade de pessoas que decidiu se mudar da cidade aumentou de forma substancial.
João(*) resistiu ao êxodo e permanece em Santa Maria há quase dez anos. Ele disse que em sua quadra é possível ver pessoas usando drogas em todos os cantos. Fato que foi comprovado pela repoirtagem, pois, em diversas esquinas havia grupos de jovens fumando maconha e com conduta suspeita.
O morador indicou um casa onde funciona um dos maiores pontos de tráfico da região. A casa de dois andares, que tem a parede pintada de violeta, no momento está passando por uma reforma. Na hora em que passamos em frente à residência, um homem que trabalhava na obra se mostrou apreensivo e começou a ofender a equipe de reportagem.
João(*) informou que já revistaram a casa, mas não encontraram nada. “As pessoas que comandam o tráfico aqui são todas da mesma família, todas se conhecem”, contou. No local também ocorre uma guerra de gangues. Na semana passada, por exemplo, um homem foi morto nesta mesma quadra por causa de briga entre integrantes dessas quadrilhas. A ausência da polícia para evitar esses crimes também foi mencionada pelos moradores.
Segundo Edson Vianna, delegado chefe da 33ª Delegacia de Polícia de Santa Maria, as autoridades já têm conhecimento há muito tempo da situação da QR 205. O problema é que o número de infratores é muito grande. “Em Santa Maria, o numero de vagabundos é bem maior do que o efetivo da Polícia Civil, então estamos fazendo o que podemos. É bom que a comunidade saiba que a polícia está investigando o tráfico do local, a gente não para nenhum minuto”, defendeu Edson.
Tanto a QR 205 de Santa Maria como a Quadra 601 do Recanto das Emas são chamadas de “áreas quentes” pela própria Polícia Civil. Essa denominação decorre do fato de que o número de traficantes, usuários de drogas e criminosos que agem nesses locais ser maior do que em outras regiões da cidade.
*Para preservar a identidade e a segurança dos moradores, os nomes utilizados nessa reportagem são fictícios.
Fonte: Alô Brasília
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