Delinquentes considerados loucos podem ficar presos para sempre
Foto: HELIO MONTEIRO |
A Ala de Tratamento Psiquiátrico (ATP), localizada no Presídio Feminino do Distrito Federal, é destinada ao tratamento de pessoas mentalmente incapazes da convivência no regime fechado. Inicialmente, o papel era no Centro de Observação (COC), que tinha o papel de somente observar. A ATP se difere de um manicômio pois o objetivo primordial é o tratamento efetivo do interno, e não somente a contenção química.
Carlos Eduardo Batista da Silva, de 36 anos, é chefe da ATP desde seus primórdios e explica que a criação dela se deu para que os internos tivessem um tratamento mais adequado. “Eles eram abandonados, não tinham tratamento. Era bem desumano mesmo”, explica. No local, os pacientes têm um acompanhamento diário de um psiquiatra e todos os policiais são treinados para se adequarem àquela realidade, uma vez que a ala é vinculada ao sistema penitenciário. “O nosso objetivo prioritário era não deixar fugir”, explica Carlos Eduardo.
“A mentalidade [dos policiais] já foi mudada. Hoje é feito um treinamento com o policial escalado para cá, porque aqui tem presos diferentes. Tem que ser mais flexível e infinitamente mais tolerante. O interno fica o dia inteiro na grade pedindo alguma coisa, diferente dos de regime fechado. Em vez de reprimir, detectamos os que mais precisam de ajuda no momento e encaminhamos para o psiquiatra”.
Ele explica que se um interno surta, a intervenção tem que ser rápida, por que isso pode gerar uma reação em cadeia. O policial então algema o interno, visando também à segurança do indivíduo, e encaminha para o psiquiatra, se estiver presente. Se não for o caso, o interno é encaminhado para o Hospital São Vicente. “Essa cultura de bater em interno não existe. Não adianta, o cara está surtado, é um transtorno”, frisa Carlos, que atua como elo entre o corpo policial e a equipe médica.
Há várias formas de tratamento do interno dentro da ATP. Uma horta, localizada ao lado da ala, serve como terapia para eles tratarem da terra e colherem verduras. “Quando o interno está muito agitado, fazemos ele capinar, pois isso rapidamente acalma. Eles podem colher algumas verduras, levar pra cela que o dia está ganho pra ele”, comenta Carlos. Eles possuem ainda oficina de reciclagem de papel, onde fazem caixas, porta canetas e afins com material reciclado, um grupo de apoio a internos alcoólatras e dependentes, com toda a equipe médica presente e o ano letivo, no qual apenas 15 dos 85 internos se inscreveram.
Todos os pacientes entram na ATP por meio de medida de segurança, que diagnostica o preso como incapaz de conviver no regime normal. Se o indivíduo receber uma medida de segurança, ele pode ter a oportunidade de sair em um a três anos, mas o período pode se prolongar indefinidamente. “É uma faca de dois gumes: se o cara recebe uma pena de 20 anos, cumpre sete e resolve se fingir de louco, como vemos em novela, ele pode sair em um ano ou pode demorar aqui muito mais que a pena”, comenta Carlos.
Fonte: Alô Brasília
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