O papagaio, o urubu e a águia


Granjeiro descreve os três “tipos de candidatos” a empregos públicos que costuma encontrar em salas de aulas


José Wilson GranjeiroCom o artigo de hoje, pretendo fazer uma provocação aos concurseiros que costumam ler meus artigos semanais. As conclusões que sintetizo aqui, neste sábado (24), são produto das minhas observações do dia a dia, ao longo de mais de duas décadas de trabalho com a preparação de candidatos para concursos públicos. Quando alguém decide estudar para concurso, está colocando o seu futuro em jogo. Por isso, nada melhor do que fazer o quanto antes uma análise comportamental e, se for o caso, corrigir o que for preciso, enquanto ainda é tempo, e se tornar um candidato realmente competitivo.

Em minha análise dos alunos com os quais trabalho todos os dias, concluí que são três os tipos de candidatos que podem ser encontrados em nossas salas de aulas. Começo pelo tipo que chamarei de PAPAGAIO. Trata-se daquele tipo de pessoa que está sempre anunciando coisas que acaba não fazendo, prometendo o que não vai cumprir ou garantindo aquilo que não tem como dar. A frase característica do PAPAGAIO é: “Deixa comigo, isso é moleza. Vou fechar esse edital e arrebentar na prova.”

Quando chega a prova, no entanto, tudo o que esse cara consegue, em vez de arrebentar, é se arrebentar. O fato é que esse tipo de concurseiro fala demais, porém não leva nada a sério, nem a si mesmo. Vive enganando a todos, como se estudasse de verdade e seguramente fosse um dos nomes da futura lista de aprovados. Mas o coitado nunca vai passar, porque tudo que diz é da boca pra fora. Ele pode até ser um bom colega, ter um papo agradável, garantir momentos divertidos como contador de histórias e piadas, mas não vai ajudar ninguém nem chegará a lugar algum. Enfim, é só mais um que paga a taxa de inscrição em concurso público.

Se você, caro leitor e concurseiro, está se comportando como um PAPAGAIO, trate de mudar, e logo. Senão, o tempo vai passar e você ficará para trás, enquanto seus concorrentes sumirão de sua vista, aprovados para cargos que você estava disputando. Mude, sim, e logo, mas atenção: nunca mude para o extremo oposto. Não deixe que a amargura e o pessimismo por não ter sido aprovado em algum concurso tomem conta de você. Se isso acontecer, você se tornará um tipo pior ainda: o concurseiro conhecido como URUBU.

O URUBU é um tipo que todos nós conhecemos. A toda hora esbarramos com alguém assim, em qualquer lugar: na fila do banco, no supermercado, no médico e, é claro, no trabalho. Talvez ele seja digno de pena, por ser alguém tão amargo. Mas o que eu sinto, mesmo, pelo URUBU é grande irritação e genuína rejeição. Quando se trata de concurso público, então, não posso aceitar esse tipo de gente, cujo negativismo pode contaminar outras pessoas e prejudicar qualquer trabalho. Infelizmente, encontramos URUBUS entre os concurseiros e até mesmo entre profissionais da área dos concursos, que ganham o pão de cada dia nas salas de aulas, por incrível que pareça!

O URUBU é aquele candidato sempre insatisfeito com tudo que o cerca. Exatamente por isso, não chega nunca a lugar nenhum. Pessimista pela própria natureza, talvez precise, na verdade, é de tratamento psicológico ou até psiquiátrico. Ele faz cursinho, mas não acredita que possa ser aprovado no concurso; acha que está gastando muito dinheiro à toa para estudar; vê falhas em tudo o que o cerca, dos professores aos banheiros, do ar condicionado à grade horária, do cafezinho nos intervalos aos bebedouros, do serviço de limpeza à comida da lanchonete, e por aí afora. É uma figura lamentável, que só sabe reclamar. Pior: nem se dá o trabalho de olhar para o próprio umbigo a fim de descobrir por que não conseguiu passar em nenhum concurso que tentou.

Se você que me lê agora costuma se comportar como URUBU, trate de virar ÁGUIA, enquanto ainda dá tempo. Do contrário, você será eterno concurseiro; nunca servidor público. O ÁGUIA é o candidato que voa alto, observa todo o panorama lá de cima e, quando mergulha em direção à presa – a vaga em disputa –, jamais erra o alvo. A comparação com a ave de rapina e sua natureza de caçadora pode parecer exagerada e até cruel, mas não é. O que desejo ver em meus alunos é a força, a determinação, a agilidade e a inteligência da águia. Se eles conseguirem reunir em sua personalidade essas qualidades, com certeza serão vitoriosos.

Uma águia vence a tempestade voando mais alto do que as nuvens da tormenta. Uma águia arranca as penas ruins para que outras nasçam novas e fortes. Uma águia consegue garras mais poderosas esfregando-as nas pedras da montanha. Uma águia ensina os filhotes a voar obrigando-os a sair do ninho e superar o medo do primeiro bater de asas, pois sabe que, se eles não conseguirem, não poderão sobreviver sozinhos na natureza. Uma águia está preparada para vencer qualquer dificuldade. Até mesmo quando chega o momento de morrer, ela demonstra altivez e escolhe o lugar do repouso eterno: voa para o lugar mais alto da montanha e lá, finalmente, descansa.

Eu poderia citar muitas pessoas como exemplos de ÁGUIA. Todas elas, sem exceção, são bem-sucedidas. Mas quero deixar aqui registrado o nome de apenas um desses vitoriosos. Todos o conhecem. Trata-se de um dos maiores desportistas do mundo, que até hoje, aos 50 anos de idade, multimilionário e ainda ganhando muito mais dinheiro do que quando era o atleta mais bem-pago do esporte mundial, me impressiona pela sua vitalidade. Digo isso porque, outro dia, eu o vi em ação numa reportagem, e, mais uma vez, me chamaram a atenção sua disposição e forma física. O espanto não foi só meu: um jovem jogador que treinava com ele disse que, se esse homem quisesse voltar, poderia atuar ainda em alto nível contra jogadores com a metade de sua idade!

Estou falando de Michael Jordan, o craque que inscreveu para sempre seu nome não apenas como o número um do basquete, mas como um dos maiores de todos os tempos no esporte mundial. A frase que o ex-atleta pronunciou no encerramento da reportagem ficou gravada em minha memória, como um verdadeiro princípio de vida, que serve para todos nós. Foi a propósito de sua frustrada tentativa de se tornar um profissional do golfe, após abandonar o basquete, ainda aos trinta e poucos anos de idade: “Não me importo com um fracasso. O que realmente me incomodaria é não ter tentado.”

Eis aí, caros leitores, um exemplo a seguir. Isso se você quiser ser um grande ÁGUIA na vida, e não um mero PAPAGAIO ou um detestável URUBU. Tenha sempre em mente a frase e o exemplo de Jordan. Esteja ciente de que o águia Michael Jordan foi um atleta fora de série e talvez ninguém possa reeditar o sucesso dele. Mas o que vale é o exemplo. Se você for do tipo que jamais desiste de seus objetivos, também será um águia e logo conquistará o seu feliz cargo novo!

Fonte: Congresso Em Foco

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