Nelson Jobim (PMDB). |
Duas posturas adotadas pela presidenta Dilma Rousseff neste início de
mandato colocaram-na em rota de colisão com o segundo maior partido
governista, o PMDB, e passarão por um teste. A intolerância com auxiliar
denunciado em reportagens por envolvimento em corrupção ou que se
exponha pública e gratuitamente em entrevistas obriga Dilma a pensar no
futuro de dois ministros. O da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB),
indicado pelo vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). E o da
Defesa, Nelson Jobim (PMDB), herança do ex-presidente Lula.
Num
gesto de vingança explícita, Rossi foi acusado de corrupção por um
ex-diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) demitido
recentemente por praticar ato considerado irregular.
Já Jobim, num gesto explicitamente gratuito, deu uma entrevista sem ter um plano para anunciar ou defender e cujo destaque foi a revelação de que votou no adversário de Dilma em 2010, José Serra (PSDB). Nesta segunda-feira (01/08), o ministro voltará a dar uma entrevista (a um programa de TV), e o assunto tem tudo para ser explorado.
Rossi foi alvejado pelo ex-diretor financeiro da Conab Oscar Jucá Neto. Irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), Jucá Neto ficou só um mês no cargo. Foi demitido dia 27 de julho, depois de uma reportagem dizer que ele havia pago uma dívida da Conab de R$ 8 milhões contestada pelo ministério a quem a companhia se subordina, o da Agricultura. E usando dinheiro destinado a outra finalidade. Tudo para favorecer o credor.
Consumada a exoneração, Oscar Jucá deixou-se localizar pelo órgão de imprensa que publicara a história que lhe custara o cargo (a revista Veja) e disparou contra Wagner Rossi, que não teria se esforçado para segurá-lo no cargo. Segundo o ex-diretor, há corrupção na Conab. A situação lá seria pior do que no Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, comparação de fácil assimilação, já que o Dnit virou sinônimo de corrupção. E o ministro participa de fraudes.
Oscar Jucá afirmou não ter como provar nada contra Rossi, mas, para ilustrar, contou dois casos, que teria descoberto durante sua passagem relâmpago pela Conab. Primeiro: a companhia teria leiloado um prédio por preço abaixo do de mercado só para beneficiar o comprador, ligado a políticos. Segundo: a empresa teria dívida de R$ 15 milhões que dirigentes dela e do ministério estariam negociando liquidar por R$ 20 milhões, para o excesso ser desviado.
Em nota oficial divulgada no último sábado (30/07), Rossi rebateu as duas denúncias. No primeiro caso, disse que o leilão arrecadou pelo prédio quantia um pouco superior ao valor mínimo estabelecido pela Caixa Econômica Federal com base em parâmetro de mercado. No segundo, que a dívida será quitada a partir de cifras decididas pela Justiça, não por negociação da Conab com o credor.
A briga entre o ex-diretor e o ministro tem origem na certeza de Oscar Jucá de que Rossi ajudou a defenestrá-lo. Contrário à sua nomeação, o ministro teria contado à revista a história do pagamento irregular que custou o cargo do ex-diretor – a Advocacia Geral da União (AGU) tenta reaver o dinheiro na Justiça. Posteriormente, nem Rossi, nem o padrinho dele, Michel Temer, teriam ajudado a abafar as conseqüências da notícia.
Por ora, Dilma não ordenou nenhuma providência semelhante à limpa que começou a promover no ministério dos Transportes, a partir do mesmo dia em que uma reportagem acusou a existência de um esquema de desvio de verba de obras do setor em benefício do PR, partido que controla a pasta desde 2003.
Quando tomou conhecimento da história nos Transportes, Dilma convocou a seu gabinete um colaborador de sua absoluta confiança que atua no setor. Perguntou se era verdade que havia superfaturamento nos Transportes. Ouviu que sim e que muita gente sabia. Convenceu-se de imediato e tomou providências com base na premissa de que o esquema era real.
No caso da denúncia na Agricultura, a presidenta ainda precisa chegar a uma conclusão. Tudo não passa de vingança de alguém que foi exonerado por irregularidade e não se conformou com o tratamento recebido? Ou, mesmo sendo vingança, é verdade? E, em sendo verdade, qual o limite da presidenta para mexer em uma peça apadrinhada logo pelo vice-presidente, Michel Temer?
O assunto deverá ser explorado por adversários do governo no Congresso, que volta ao trabalho nesta segunda-feira (01/08) depois de duas semanas de recesso. As bancadas de PSDB, DEM e PPS já têm reunião marcada para esta terça-feira (02/08) para discutir uma estratégia que leve à criação de uma CPI dos Transportes. A denúncia sobre desvios na Agricultura podem ajudar a oposição a achar senadores governistas descontentes que topem criar embaraços para Dilma.
Jobim: votei Serrra
Quem já criou embaraço para a presidenta nos últimos dias foi ministro da Defesa, Nelson Jobim. Em entrevista a um portal na internet, Jobim revelou ter votado em José Serra no ano passado.
O voto não chega a ser exatamente uma novidade para Dilma. Segundo apurou, durante a campanha, Jobim disse ao ex-presidente Lula e a uma série de ministros, em uma reunião de coordenação, que não poderia gravar um depoimento para uso na TV pela então candidata Dilma porque votaria em Serra, seu padrinho de casamento.
O que incomodou o Planalto foi a gratuidade da declaração de Jobim. Ele topou dar uma entrevista sem ter qualquer ação do ministério para defender ou divulgar, mas apenas por interesse político. E não hesitou em abrir o voto publicamente. Para um jurista e político experiente como Jobim, não teria sido difícil driblar a pergunta argumentando, por exemplo, que voto é secreto.
O desconforto do Planalto e de Dilma foi explicitado pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, neste domingo (31/07). Ao deixar uma reunião do PT, Carvalho disse a jornalistas que esperavam o fim do encontro que a declaração de Jobim havia sido “desnecessária”.
A declaração de Jobim soma-se a uma outra situação criada recentemente por ele e as quais, juntas, deixam no Planalto a impressão de que o ministro está a cavar a demissão. No mês passado, em sessão do Senado em homenagem aos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Jobim disse que tem de tolerar "idiotas", expressão interpretada pela imprensa com dirigida a Dilma, por causa do temperamento dela.
O ministro explicaria depois que a palavra “idiota” se referia justamente a uma jornalista, mas, como o mundo político também se move por leitura de sinais, é ruim para a imagem presidencial que fique no ar a suspeita de que Jobim deseja sair do governo e desafia Dilma a demiti-lo.
De acordo com um ex-colaborador de Jobim, os episódios envolvendo o ministro são fruto da personalidade dele, um gaúcho que não se preocupa em dourar a pílula. O ministro não estaria tentando forçar uma exoneração porque considera ainda ter uma missão especial a cumprir: ajudar o governo a aprovar, no Congresso, o projeto que cria a Comissão da Verdade para esclarecer tortura e morte na ditadura militar.
Já Jobim, num gesto explicitamente gratuito, deu uma entrevista sem ter um plano para anunciar ou defender e cujo destaque foi a revelação de que votou no adversário de Dilma em 2010, José Serra (PSDB). Nesta segunda-feira (01/08), o ministro voltará a dar uma entrevista (a um programa de TV), e o assunto tem tudo para ser explorado.
Rossi foi alvejado pelo ex-diretor financeiro da Conab Oscar Jucá Neto. Irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), Jucá Neto ficou só um mês no cargo. Foi demitido dia 27 de julho, depois de uma reportagem dizer que ele havia pago uma dívida da Conab de R$ 8 milhões contestada pelo ministério a quem a companhia se subordina, o da Agricultura. E usando dinheiro destinado a outra finalidade. Tudo para favorecer o credor.
Consumada a exoneração, Oscar Jucá deixou-se localizar pelo órgão de imprensa que publicara a história que lhe custara o cargo (a revista Veja) e disparou contra Wagner Rossi, que não teria se esforçado para segurá-lo no cargo. Segundo o ex-diretor, há corrupção na Conab. A situação lá seria pior do que no Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, comparação de fácil assimilação, já que o Dnit virou sinônimo de corrupção. E o ministro participa de fraudes.
Oscar Jucá afirmou não ter como provar nada contra Rossi, mas, para ilustrar, contou dois casos, que teria descoberto durante sua passagem relâmpago pela Conab. Primeiro: a companhia teria leiloado um prédio por preço abaixo do de mercado só para beneficiar o comprador, ligado a políticos. Segundo: a empresa teria dívida de R$ 15 milhões que dirigentes dela e do ministério estariam negociando liquidar por R$ 20 milhões, para o excesso ser desviado.
Em nota oficial divulgada no último sábado (30/07), Rossi rebateu as duas denúncias. No primeiro caso, disse que o leilão arrecadou pelo prédio quantia um pouco superior ao valor mínimo estabelecido pela Caixa Econômica Federal com base em parâmetro de mercado. No segundo, que a dívida será quitada a partir de cifras decididas pela Justiça, não por negociação da Conab com o credor.
A briga entre o ex-diretor e o ministro tem origem na certeza de Oscar Jucá de que Rossi ajudou a defenestrá-lo. Contrário à sua nomeação, o ministro teria contado à revista a história do pagamento irregular que custou o cargo do ex-diretor – a Advocacia Geral da União (AGU) tenta reaver o dinheiro na Justiça. Posteriormente, nem Rossi, nem o padrinho dele, Michel Temer, teriam ajudado a abafar as conseqüências da notícia.
Por ora, Dilma não ordenou nenhuma providência semelhante à limpa que começou a promover no ministério dos Transportes, a partir do mesmo dia em que uma reportagem acusou a existência de um esquema de desvio de verba de obras do setor em benefício do PR, partido que controla a pasta desde 2003.
Quando tomou conhecimento da história nos Transportes, Dilma convocou a seu gabinete um colaborador de sua absoluta confiança que atua no setor. Perguntou se era verdade que havia superfaturamento nos Transportes. Ouviu que sim e que muita gente sabia. Convenceu-se de imediato e tomou providências com base na premissa de que o esquema era real.
No caso da denúncia na Agricultura, a presidenta ainda precisa chegar a uma conclusão. Tudo não passa de vingança de alguém que foi exonerado por irregularidade e não se conformou com o tratamento recebido? Ou, mesmo sendo vingança, é verdade? E, em sendo verdade, qual o limite da presidenta para mexer em uma peça apadrinhada logo pelo vice-presidente, Michel Temer?
O assunto deverá ser explorado por adversários do governo no Congresso, que volta ao trabalho nesta segunda-feira (01/08) depois de duas semanas de recesso. As bancadas de PSDB, DEM e PPS já têm reunião marcada para esta terça-feira (02/08) para discutir uma estratégia que leve à criação de uma CPI dos Transportes. A denúncia sobre desvios na Agricultura podem ajudar a oposição a achar senadores governistas descontentes que topem criar embaraços para Dilma.
Jobim: votei Serrra
Quem já criou embaraço para a presidenta nos últimos dias foi ministro da Defesa, Nelson Jobim. Em entrevista a um portal na internet, Jobim revelou ter votado em José Serra no ano passado.
O voto não chega a ser exatamente uma novidade para Dilma. Segundo apurou, durante a campanha, Jobim disse ao ex-presidente Lula e a uma série de ministros, em uma reunião de coordenação, que não poderia gravar um depoimento para uso na TV pela então candidata Dilma porque votaria em Serra, seu padrinho de casamento.
O que incomodou o Planalto foi a gratuidade da declaração de Jobim. Ele topou dar uma entrevista sem ter qualquer ação do ministério para defender ou divulgar, mas apenas por interesse político. E não hesitou em abrir o voto publicamente. Para um jurista e político experiente como Jobim, não teria sido difícil driblar a pergunta argumentando, por exemplo, que voto é secreto.
O desconforto do Planalto e de Dilma foi explicitado pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, neste domingo (31/07). Ao deixar uma reunião do PT, Carvalho disse a jornalistas que esperavam o fim do encontro que a declaração de Jobim havia sido “desnecessária”.
A declaração de Jobim soma-se a uma outra situação criada recentemente por ele e as quais, juntas, deixam no Planalto a impressão de que o ministro está a cavar a demissão. No mês passado, em sessão do Senado em homenagem aos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Jobim disse que tem de tolerar "idiotas", expressão interpretada pela imprensa com dirigida a Dilma, por causa do temperamento dela.
O ministro explicaria depois que a palavra “idiota” se referia justamente a uma jornalista, mas, como o mundo político também se move por leitura de sinais, é ruim para a imagem presidencial que fique no ar a suspeita de que Jobim deseja sair do governo e desafia Dilma a demiti-lo.
De acordo com um ex-colaborador de Jobim, os episódios envolvendo o ministro são fruto da personalidade dele, um gaúcho que não se preocupa em dourar a pílula. O ministro não estaria tentando forçar uma exoneração porque considera ainda ter uma missão especial a cumprir: ajudar o governo a aprovar, no Congresso, o projeto que cria a Comissão da Verdade para esclarecer tortura e morte na ditadura militar.
Fonte: Carta Maior
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