No começo dos anos 1990, Brasília foi sacudida por uma onda
olímpica. Atletas e personalidades políticas queriam trazer os Jogos de 2000
para a capital. Organizou-se a primeira candidatura brasileira aceita pelo
Comitê Olímpico Internacional (COI), mas a proposta acabou perdendo para
Sydney, na Austrália. Na ocasião foi plantada a semente olímpica, que acabou
frutificando nos Jogos do Rio, em 2016. À frente daquele movimento estava o
então deputado federal Paulo Octavio, que ainda tentou convencer os ocupantes
do Buriti a apresentar nova candidatura, sem sucesso. Com mais visão de futuro,
César Maia pediu e obteve ajuda de PO e de sua equipe, conseguindo trazer a
disputa para o Brasil.
Atleta amador, amante dos esportes e apaixonado por Jogos
Olímpicos, que assiste nos estádios desde Moscou-1980, Paulo Octavio demostra
de otimismo e avalia como positiva a participação brasileira em Londres. Para
ele, com investimentos corretos e constantes, o país chegará entre os 10
primeiros nos jogos cariocas e pode até, em 20 anos, ser uma das cinco
potências olímpicas do mundo.
Há mais de 20 anos, o senhor tentou para Brasília
uma olimpíada. Como foi este projeto?
- Tudo começou em 1989, com a eleição do presidente Fernando
Collor e as mudanças de rumo no País. Junto com um grupo de atletas, dirigentes
esportivos e intelectuais, iniciei uma ampla campanha para que o Brasil se
candidatasse aos Jogos de 2000, trazendo a sede para Brasília, que tinha,
inegavelmente, amplas condições de abrigar as instalações requeridas para uma
competição deste porte. Um ano depois, em 1990, com minha eleição a deputado
federal, o trabalho ganhou força. Nasceu uma associação que atraiu
patrocinadores privados e conceituados nomes do mundo esportivo, como Bernard
Rajszman, Carlos Arthur Nuzman, Zico e muitos outros otimistas que trabalharam
arduamente na construção do dossiê de nossa candidatura. Sempre entendi que,
entre as capitais brasileiras, Brasília reunia as melhores condições para
sediar o evento.
De fato, havia à época áreas prontas para ganhar
instalações esportivas, que hoje estariam formando grandes atletas...
- Com certeza. Além disso, o grupo envolvido na elaboração do
projeto era composto pelos melhores brasileiros em cada área. E destaco um
detalhe para demonstrar isso: Oscar Niemeyer e Ruy Ohtake eram os arquitetos da
Vila Olímpica e de tantas outras instalações esportivas.
O que faltou para a proposta vencer? O
brasileiro, à época, só se interessava pelo futebol?
- A nossa proposta, entregue por mim e por Márcia Kubitschek
na Suíça, em 1992, foi aceita pelo Comitê Olímpico Internacional. Pela primeira
vez na história dos jogos, o nosso País foi oficialmente candidato. Na decisão
final, em Mônaco, porém, fomos derrotados. Perdemos para Sidney, na Austrália,
a eleita entre sete cidades candidatas. Mas fizemos bonito. O problema foi que
as dificuldades políticas daquele momento nos inviabilizaram. É bom não
esquecer a turbulência que o País atravessava em 1992, com a economia em
convulsão e vários problemas estruturais, que assustaram o Comitê Olímpico
Internacional.
E a candidatura desintegrou...
- Esta experiência deixou um legado positivo: o patrocínio
das instituições oficiais, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e os
Correios a diversas modalidades esportivas, o que começou a dar frutos em
termos de resultados. Ficou também a certeza de que deveríamos persistir.
Brasília-2000 é candidatura-mãe do Rio-2016?
- Com certeza. A vitória veio na sequência do projeto
Brasília-2000. O plano, naquela época, era recandidatar a cidade, mas o Governo
do DF se desinteressou do projeto de tentar trazer os Jogos. César Maia, então
prefeito do Rio de Janeiro, me procurou, pois queria apresentar a candidatura
do Rio. Sem ter como fazer a proposta emplacar aqui, nossa equipe foi levar a
experiência adquirida com a candidatura para a Cidade Maravilhosa. E, após
quatro tentativas, com a participação ativa do presidente Lula, o Brasil ganhou
a honra de ser a sede em 2016. Mas tudo nasceu naquela candidatura de 1990,
aqui em Brasília.
O senhor esteve em Londres, nos jogos
recém-encerrados. Como avalia o desempenho do Brasil? Não a achou decepcionante?
- Havia uma expectativa de que o Brasil conseguisse, em
Londres, um desempenho superior ao de Pequim, quando fechamos os jogos com 15
medalhas no total, sendo três de ouro, quatro de prata e oito de bronze, em 23°
lugar. Nossa campanha foi praticamente a mesma, com três ouros, cinco pratas e
nove bronzes, subindo uma posição no ranking geral. Mas eu vejo esta
estabilidade com bons olhos, não como algo decepcionante. Começam a ser
colhidos os primeiros resultados de um trabalho consistente do Comitê Olímpico
Brasileiro, com o Nuzman à frente.
Mas 17 medalhas não é muito pouco para um país do
tamanho do Brasil?
- Vamos pegar alguns dados históricos e olhar com calma esta
questão. O Brasil disputa Jogos Olímpicos desde 1920, quando ganhamos três
medalhas, uma de cada metal. Quatro anos depois, voltamos de Paris sem
medalhas, não mandamos delegação aos Jogos de Amsterdã e ficamos até o começo
da Segunda Guerra com as mesmas três medalhas conquistadas nos jogos de
Antuérpia, por militares brasileiros, no Tiro.
Ou seja, três medalhas em quase 25 anos...
- No pós-guerra, entre 1948 e 1956, ganhamos um total de
cinco medalhas, sendo duas de ouro e três de bronze. As duas de ouro eram de
Adhemar Ferreira da Silva, no salto triplo, um fenômeno. As outras três vieram
no basquete, no salto em altura e na natação. E de 1960 até 1976, ou seja, em
cinco Jogos Olímpicos, ganhamos dez medalhas, sendo nove de bronze e uma de
prata. Vamos pegar os medalhistas deste período: três no salto triplo, sendo um
bronze e uma prata do Nelson Prudêncio e outro bronze do João do Pulo, que iria
repetir a conquista em Moscou; duas de bronze no basquete masculino; e as
restantes na natação, vela, judô e boxe. Repare que, sinal de continuidade, só
no salto triplo, passando do Adhemar para o Prudêncio, e dele para o João do
Pulo.
Então, muito pouco para este país.
- Vamos adiante. A partir de Moscou, em 1980, a primeira
Olimpíada que assisti in loco, apesar da imensa restrição para visitar a
extinta União Soviética, começamos timidamente a ingressar com mais assiduidade
no grupo dourado. Veja bem: até 1980, tínhamos apenas três medalhas de ouro e
nenhuma continuidade olímpica. Bem, nos anos 80, nos três jogos, trouxemos 18
medalhas, sendo quatro de ouro, sete de prata e sete de bronze. E é nesta época
que começam os primeiros movimentos de profissionalização esportiva, com o
Nuzman, no vôlei, que chega à final em Los Angeles-84 e traz a prata. A vela,
ainda em cima da iniciativa de seus atletas, começa a garimpar muitas medalhas,
cinco no total, duas de ouro, uma de prata e duas de bronze. O futebol, sem a
concorrência desleal dos profissionais da Cortina de Ferro contra juvenis e
juniores, chega a duas finais, mas falha na hora decisiva. E Brasília dá ao
País um monstro sagrado chamado Joaquim Cruz, ouro e prata nos 800m. Pipocam
ídolos no judô, como Aurélio Miguel, na natação, como o Ricardo Prado, e no atletismo,
como o Robson Caetano, mas ainda falta planejamento e profissionalismo.
Que vem nos anos 90, época da candidatura de
Brasília...
- Pois bem, nos anos 90, na esteira do que falei antes, com
os primeiros patrocínios, ao lado dos esportes onde os atletas competem por
amor e os bancam, começamos a aumentar nossas conquistas. Nos Jogos de 1992,
1996 e 2000 somamos um total de 30 medalhas, sendo cinco de ouro. O vôlei
masculino e as meninas na praia são campeões olímpicos. Ao lado dele, a vela, o
judô, a natação, o atletismo e o basquete feminino também têm marcas
importantes e, se passamos sem ouro em Sydney, vamos voltar ao topo do pódio
oito vezes em apenas dois Jogos da década passada, com 25 medalhas. Confirmamos
que os investimentos feitos em judô, natação, vela, vôlei e atletismo foram
acertados e chegamos perto dos top-15. E agora estamos mantendo uma linha de
crescimento sustentado. Para se ter uma ideia, demoramos 92 anos para chegar às
100 medalhas olímpicas, marca estabelecida em Londres, no boxe feminino. E 39%
deste total foi conquistado nos Jogos disputados apenas neste século, as
Olimpíadas de Atenas, Pequim e a última. Se incluirmos Sydney na conta, 50% das
nossas medalhas olímpicas vieram em apenas quatro Jogos. Não há como não ver
uma evolução nisso.
E por que o Brasil não consegue o ouro no futebol?
- O caso do futebol precisa ser visto sem muita emoção, com
frieza. Quais são os maiores ganhadores de Copas do Mundo? Brasil, com cinco
títulos, Itália, com quatro, Alemanha, com três. Destes, apenas a Itália
ostenta um título olímpico, ganho em 1936. Ah, vai haver quem se lembre do
título da Alemanha Oriental, em 1976, mas este não é considerado pelos alemães.
O torneio olímpico de futebol é curto e traiçoeiro. Não há Brasil ou Alemanha
como campeão, mas há Canadá, Camarões e Nigéria. Mesmo depois que foi permitido
o uso de jogadores profissionais, em 1984, ainda é possível ver muitas
surpresas, como foi a vitória do México, em um jogo atípico, com um gol aos 30
segundos. Precisamos aprender a jogar este torneio e a usar melhor as
convocações. E houve um erro imperdoável na lista de Mano Menezes: entre os
três jogadores com mais de 23 anos que podiam ser convocados, era preferível
levar um goleiro mais experiente que um atacante, embora eu ache o Hulk um bom
jogador. Preferia, entretanto, que o Jefferson, goleiro do Botafogo, estivesse
na meta. Acho que teríamos mais um ouro na conta.
Então o senhor vê o Brasil como um todo em um bom
patamar nas Olimpíadas?
- Acho que estamos em um caminho, consistente, de nos
tornarmos top-10 nos Jogos do Rio... Na Olimpíada de Londres, oito medalhas de
ouro nos colocariam neste grupo. Chegamos perto com as pratas na natação, boxe,
futebol, vôlei de praia e vôlei masculino. Mas seria um resultado mentiroso.
Porém, no top-15, nós poderíamos estar. E isso escapou por detalhes. Uma
punição, a meu ver injusta, tirou o nosso ouro no boxe, na luta do Esquiva
Falcão. O time de futebol era melhor que o do México e se não fosse o gol no
início, podíamos ter vencido. No vôlei de praia, faltou pouco para vencermos. E
no vôlei de quadra masculino estivemos com a medalha de ouro na mão, que
escapou por detalhes, para em seguida assistirmos àquela incrível virada dos
russos - que é um belo time.
Fonte: Brasília Em Dia
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