Salários baixos e condições de trabalho precárias de médicos comprometem saúde pública no DF

Rodrigo Sousa Bresani, aluno do 5º semestre de medicina, reclama do sucateamente da rede pública de saúde, da falta de medicamentos nos hospitais e dos baixos salários dos médicos. Foto: Elza Fiúza/ABr.
Apesar de estarem no topo da tabela de remuneração da categoria no país, médicos do Distrito Federal que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) consideram os salários baixos e reclamam das condições precárias de trabalho. Para o presidente do Sindicato dos Médicos de Brasília, Marcos Gutemberg Fialho da Costa, o atual quadro se deve a uma situação estrutural.

“São péssimas condições de trabalho, sem cadeira ou mesa ergonômica, com sala insalubre e sem ventilação. Pacientes ficam no chão e o médico tem que medicar. Você não tem segurança, nem mesmo física – há uma demanda enorme de pacientes que ficam aguardando por horas e, quando entram, às vezes, ocorre até agressão”, completou.

Em entrevista à Agência Brasil, ele confirmou a situação registrada pela equipe de reportagem em hospitais regionais de cidades como Gama, Santa Maria e Taguatinga, onde, devido ao número insuficiente de profissionais, os médicos não conseguem atender pacientes nos pronto-socorros. “Temos anos de falta de reposição de colegas que se aposentaram. A coisa chegou ao gargalo”, disse.

Dados da Secretaria de Saúde indicam que 5.110 médicos trabalham na rede pública do DF. O déficit atual, calculado pelo sindicato, passa de mil profissionais. O salário-base, com jornada de 20 horas semanais, é R$ 4.143,57.

Para Costa, é preciso realizar concursos públicos que ofereçam condições atraentes aos candidatos, para que médicos aprovados em processos seletivos não desistam do cargo. “Os médicos que hoje permanecem são os que estão há algum tempo no sistema e que realmente gostam de fazer medicina pública. Esses continuam. Mas os que entram com uma perspectiva de situação mais favorável na iniciativa privada não vão ficar.”

A coordenadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), Celeste Aída Silveira, explicou que o atual currículo do curso engloba disciplinas como práticas da saúde e saúde e sociedade, que incluem atividades práticas em centros de saúde já no primeiro semestre. A ideia, segundo ela, é antecipar o contato dos alunos com a realidade da rede pública de saúde no DF.

“Isso serve até para eles sentirem e não ficarem tão temerosos de entrar nessa linha. Assim, eles já sabem que as condições não são ideais, que há restrições de ambiente de trabalho, de disponibilidade de exames e de medicamentos. Tenho observado que essa nova orientação tem melhorado a tendência dos estudantes [de trabalhar no setor público]”, contou.
A maioria dos alunos, de acordo com dados da própria faculdade, busca, ao iniciar a vida profissional, conciliar o trabalho na rede pública e no setor privado.

É o caso de Artur Souza Rosa, 20 anos, aluno do 3º semestre de medicina na UnB. Ele pretende trabalhar no SUS, mas sonha mesmo em abrir uma clínica particular e tentar dividir o tempo entre o atendimento no setor público e no privado. “A maior dificuldade e o que acaba desestimulando profissionais da área é a falta de material, de leitos, de espaço e de tantas outras coisas [nos hospitais públicos]. Deveríamos, aqui em Brasília, ser referência para o resto do país, mas estamos longe disso.”

O aluno do 5º semestre Rodrigo Sousa Bresani, 25 anos, contou que escolheu a profissão pelo impacto social e pelo estímulo de parentes que são médicos. A avaliação do estudante é que a rede pública de saúde no DF não funciona e tem muito a melhorar. “O sucateamento, a falta de medicamentos e os salários baixos da rede pública com certeza desestimulam os alunos que escolhem o curso pensando no retorno financeiro. O sistema público precisa de estabilidade, apoio e dedicação.”

Em entrevista à Agência Brasil, o secretário adjunto de Saúde, Elias Fernando Miziara, lembrou que os médicos do SUS, no DF, recebem gratificações por trabalhos prestados em centros de saúde e em emergências e que dificilmente a remuneração se resume ao salário-base indicado pelo sindicato. “Temos um setor privado que está remunerando melhor, mas entendemos que é uma questão de tempo para esse mercado se esgotar”, disse.

Miziara reconheceu a precariedade das condições de trabalho a que são submetidos os profissionais de saúde de rede pública. “De fato, existem problemas. Pegamos essa rede absolutamente depauperada [afetada por redução de recursos financeiros]. Não é só a questão de móveis, mas de equipamentos e medicamentos com falta generalizada.”
 
Fonte: Agência Brasil

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