"Não tenho medo de trabalho"

Deputada distrital em sua primeira legislatura, a filha de Joaquim Roriz, Liliane Roriz (PRTB), promete fazer uma oposição responsável, sem que as divergências com a base governista comprometam o progresso da cidade. Em entrevista exclusiva ao jornal Tribuna do Brasil, a parlamentar avalia a atual conjuntura da Câmara Legislativa, o primeiro mês do governo Agnelo - enumera os “tropeços” do petista - e defende uma ampla investigação na saúde pública do Distrito Federal.

Como está o atual formato da Câmara Legislativa?
Hoje temos parlamentares atuando em vários níveis de posicionamento. No meu caso, sou oposição ao atual governo. Porém, muitos se dizem independentes. E outros, a grande maioria, são da base governista.  Essa divisão induz o povo a entender que opositores, como é o meu caso, sejam encarados como adversários do progresso e do crescimento do nosso Distrito Federal. Isso não é verdade. Sou opositora por uma questão de ideologia, de princípios. E não com o objetivo de minar ações do atual governo. Venho de uma família com história política no Distrito Federal. Sabemos o que é ser governo e sofremos durante todo o tempo com a intolerância e a sede de vingança de políticos que hoje completam em vários níveis os quadros de funcionários do governo do Distrito Federal. E isso eu não farei no meu mandato.

Como é estrear na política logo na oposição?
Fui eleita para defender o povo do Distrito Federal e não para criticar o governo. Quem me conhece sabe que não sou de levantar a voz à toa. Costumo dizer que na disputa entre oposição e governo quem tem que sair com a vitória é a população. Não dá mais para ficar brigando simplesmente para impedir que algo de bom seja feito por nossa cidade só por ter partido de outro grupo. Acredito piamente que o pensamento dos políticos precisa evoluir.

Mas a oposição só conta com três integrantes oficiais...
Isso não impede que outros deputados façam a adesão à bancada oposicionista. Os atuais blocos foram formados para a composição da Mesa e das comissões. Acredito que há colegas que não irão se identificar com o jeito PT de governar e mudarão de posicionamento na Casa. Mas, se eu tiver de ficar sozinha nessa luta, não tem o menor problema. Não tenho medo de trabalho.

O atual tamanho da base aliada pode representar dificuldade em enfrentar o governo Agnelo?
Da mesma forma que o Agnelo foi eleito para governar, e tantos outros foram eleitos para apoiar o novo governo, eu fui eleita para fiscalizar os atos do governador, do vice e de todo o governo. É assim que funciona. É claro que o governo possui uma grande base. A maioria tenta de alguma forma tirar uma casquinha, um bônus de ser governo. Mas ainda está tudo muito recente. Muita água vai rolar...

A senhora cogita em algum momento votar junto com o governo?
Ajudei a aprovar o conhecido “Pacotão da Saúde”, por entender a necessidade emergencial de cuidar da nossa rede pública, que realmente está castigada. Sei da necessidade de melhorar os quadros de servidores e o atendimento à população. Não concordei com a forma que o governo escolheu para buscar fonte do recurso, apesar disso meu voto foi sim a essas medidas após o comprometimento do governo de realocar o recurso para a reserva de contingência. Vou ficar atenta a isso, mesmo porque a Lei de Responsabilidade Fiscal está em vigor.

Qual é a avaliação da senhora nesse primeiro mês de governo Agnelo?
É claro que o governo ainda é recente e o momento é de adaptação. Não dá para cobrarmos imediatismos e milagres da nova gestão em apenas 40 dias de mandato. Mas tenho acompanhado vários tropeços da atual gestão que podem, sim, prejudicar a população. É o caso da cobrança deste ano do Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA), que utilizou tabela equivocada, sem a devida depreciação dos veículos. Ora, pela lógica governista, uma pessoa que comprou carro zero quilômetro no ano passado terá de pagar o mesmo valor do IPVA deste ano. É justo? Apresentei na Câmara Legislativa um Projeto de Decreto Legislativo que susta os efeitos dessa cobrança. Fiz isso para resguardar o contribuinte do pagamento de um tributo equivocado. A nossa população já sofre com uma das maiores cargas tributárias do mundo. Na educação, há descaso com o problema dos professores. Não posso me calar ao ver mais de 1,5 mil professores à espera da boa vontade do governo em contratá-los após os convocarem pelo Diário Oficial.  Demitiram diretores, nomearam servidores mortos, fazem uma maquiagem nas escolas para dizer que tudo está em ordem, mas não está. Falta pulso firme no governo de definir realmente as prioridades da gestão de Agnelo.

A senhora foi uma das autoras do requerimento da CPI da Saúde. O que pretende investigar?
Não é de hoje que ouvimos em “herança maldita” que foi deixada para o atual governo.  Ouvimos boatos ou denúncias sobre desvios de recursos da saúde por gestores ano após ano. É isso que defendo: a ampla investigação de tudo, inclusive dos contratos emergenciais atuais. Se alguém fez algo de errado, tem que ser responsabilizado. A investigação suprapartidária é a melhor resposta que podemos oferecer para a sociedade.
Mas a CPI sairá do papel?
Eu e a deputada Celina Leão conseguimos recolher 14 assinaturas para instaurar a comissão. Agora depende da vontade política dos deputados para que os trabalhos comecem para valer. Eu estou muito disposta. 

E o decreto sobre o nepotismo?
O PT do Distrito Federal sempre esbravejou quando o assunto era nepotismo. Confesso que me assustei quando vi que o atual governo criou um decreto que, na verdade, é para inglês ver. Acho que é uma forma de institucionalizar oficialmente a prática. Há poucos meses, defendiam uma coisa. Agora, na situação de governo, já mudaram o discurso. Essa incoerência vai começar a ser revelada para a população. Um dia realmente a máscara cai.

Fonte: Tribuna do Brasil

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