Muito do nosso mal-estar é oriundo da
bagagem emocional que vamos acumulando ao longo dos anos. Acontecimentos
catastróficos, deceções, sentimentos de culpa, perdas, ressentimentos,
frustrações, injustiças, mágoas, tudo isto vai-se acumulando ao ponto de
tornar-se num peso difícil de transportar. Por mais força emocional que
possamos desenvolver, se não aliviarmos a nossa bagagem emocional, se
não fizermos as pazes com os ressentimentos passados, se não resolvermos
o sentimento de culpa que nos diminui, se não aceitarmos a perda de
algumas das coisas que nos eram significativas, provavelmente podemos
desenvolver um sentimento de colapso emocional. Nesse estado, somos alvo de imensos estímulos que nos abrem feridas emocionais, o que nos pode conduzir a um estado crónico de dor emocional.
Em seguida apresento 9 formas de aliviar a sua bagagem emocional:
1 – ACEITE E RESOLVA AS SUAS DECEÇÕES
Numa primeira fase a deceção tem o seu
lado útil. Força-nos a orientar a nossa atenção para o desagrado sentido
face a algo que pretendíamos que acontecesse ou para a expetativa
defraudada. Este impulso é benéfico, até ao ponto em que nos serve para
retirarmos aprendizagens positivas e que possam evitar que no futuro
algo desagradável possa repetir-se. Mas, se nos detemos demasiado tempo
nos sentimentos desagradáveis associados à deceção, tudo pode vir a
complicar-se. Tendemos a punir-nos ou a ficar ressentidos com quem possa
ter sido o alvo da nossa deceção. O constrangimento oriundo da deceção
pode tornar-se muito incapacitante dado que a pessoa transporta a todo o
momento a memória associada ao acontecimento, emergindo emoções
negativas que agonizam o seu estado emocional. O ponto extremo da
deceção, é o sentimento de injustiça, vitimização e desesperança.
Aceite e lide de forma construtiva com a
sua deceção. Procure não generalizar os acontecimentos que o conduziram
a esse estado e crie em si mesmo um estado de ser mais elevado,
promotor de novas ações e novas soluções para os seus objetivos. Esforce-se para realizar atividades que gosta, promova o seu estado de humor e perspetive novos desafios.
Separe os resultado obtidos (resultado negativos) de si mesmo. Se ficou
dececionado com algum dos seus comportamentos, ou não alcançou algum
dos seus objetivos, tente perceber que você não é os seus fracassos,
você é aquele que pode aprender com isso e melhorar no futuro. Olhe o
lado positivo da deceção, olhe nas entrelinhas e verifique que
ensinamentos pode retirar.
2 – LIBERTE-SE DO SENTIMENTO DE CULPA
Assim como a deceção, também o sentimento de culpa,
numa primeira fase pode ser benéfico, principalmente se nos conduzir à
reflexão acerca do nosso grau de responsabilidade ou envolvimento na
situação ou acontecimento. Mas se a tendência é para continuar a ruminar
na culpa e isso retira-lhe capacidade, bota-o abaixo e perturba o seu
dia a dia, certamente nada de bom pode estar associado à proliferação do
sentimento de culpa. É importante libertar-se do sentimento de culpa e
substituí-lo por um sentimento de responsabilidade associado a uma
atitude positiva que possa reparar o problema infligido, ou evitar que
possa repetir-se. Se permancer num estado de culpa, o remorso sentido
pode corroer, levá-lo à diminuição da autoestima, e diminuição de valor
enquanto pessoa. Certamente num estado de ser negativo nada de bom pode
ser feito, prejudicando-se duplamente. A aceitação da responsabilidade
pode promover a libertação do sentimento de culpa, dado que coloca-o no
caminho da ação reparadora ou de melhoria, da situação ou até de você
mesmo.
3 – IDENTIFIQUE E RESOLVA OS SEUS CONFLITOS INTERNOS
Os conflitos internos são geradores de
confusão, fundados nos sentimentos opostos à razão. Esta luta entre a
emoção e a razão, entre sentir uma coisa e fazer outra, ou fazer aquilo
que não desejamos pode gerar sentimentos de revolta connosco mesmo e
enfraquecer a noção de autocontrole. Num estado lábil a estabilidade
emocional sofre fortes investidas, somos colocados à prova pelas nossas
próprias incongruências internas, podendo conduzir-nos a maus hábitos ou comportamentos indesejados. Num estado de confusão e de insatisfação connosco mesmo a dor emocional toma conta de nós.
Por tudo isto, importa identificar que conflitos tem que o conduz ao sofrimento:
- Que relação têm com os seus objetivos e com as suas incapacidades?
- Tente perceber o que o leva a pensar uma determinada coisa e a fazer outra?
- Que benefícios emergem das ações que sabe que o prejudicam, mas teima em fazê-las?
- Que compensações oferecem essas ações?
- Que buraco emocional estão os seus comportamentos destrutivos a tapar?
Provavelmente, para resolver alguns dos seus conflitos internos
terá de propor-se a enfrentar alguns dos seus incómodos e, aceitar a
dura realidade que terá de abdicar de alguma coisa em prol da sua
estabilidade emocional. Mas se abdica, ou se opta por algo, quer dizer
que tem o poder de opção, tem o poder de decidir o que é melhor para si e
o que decide fazer. Ao acionar o seu poder de decisão e de escolha,
fica mais perto de resolver os seus conflitos internos e com isso
alcançar a sobriedade emocional.
4 – LIBERTE-SE DO PASSADO CASTRADOR
O passado pode ser muito castrador e paralisante da nossa vida. Os condicionalismos podem fazer-se sentir em muitas áreas, dependendo das experiências de cada pessoa, mas, usualmente o medo e o ressentimento são dois fatores que impedem que se leve a vida em frente. As experiências negativas experimentadas, por terem gerado um elevado impacto emocional negativo, prendem a pessoa nas emoções sentidas. Essas emoções podem fazer emergir sentimentos de incapacidade, de mágoa, de ausência de valor, de injustiça, levando a que a pessoa olhe o seu presente e o seu futuro à luz de um passado traumático. Se a pessoa se identifica e cola ao sentimento negativo oriundo do seu passado negativo, fica num estado incapacitante, prejudicando os objetivos e sonhos de vida.Para libertar-se da infelicidade associada ao seu passado, importa perceber que você é mais que o seu passado e que os acontecimentos negativos experienciados. Você é também aquilo que tem no presente, é também a sua vontade de ser feliz, de ser bem sucedido, de ter um futuro próspero e de se propor a desafios que mexem positivamente consigo. Liberte-se do seu passado, orientado-se mais por aquilo que deseja realizar, por aquilo que lhe é significativo do que por aquilo que lhe aconteceu e continua ilusoriamente a acinzentar a sua vida em geral.
5 – MELHORE A SUA AUTOESTIMA
Quando temos uma experiência de vida que nos conduziu à diminuição do nosso valor, seja porque em tenra idade não fomos valorizados pelos nossos familiares ou educadores, ou porque fomos acumulando fracassos, deceções, frustrações e por comparação julgamos ser menos do que os outros, a autoestima fica afetada negativamente. A baixa autoestima estabelece uma ponte com o passado, trazendo para o presente os sentimentos e sensações de impotência, de ausência de controlo, de insucessos, relembrando-nos ilusoriamente do nosso fraco valor. Este processo leva à criação de uma autoavaliação valorativa muito diminuída e com isso vimos toda a nossa grandiosidade ser manchada.Se você sente o seu autovalor diminuído, certamente está preso no passado. Importa perceber que o valor pessoal está fortemente relacionado com as nossas ações e não propriamente com aquilo que nos aconteceu. Se sente que a sua autoestima está diminuída, e pretende melhorar, muito coisa pode ser feita. O primeiro passo é respeitar-se e dar a si mesmo a oportunidade de autovalorizar-se, sem antecipadamente punir-se pela ideia que construiu acerca de você mesmo.
6 – RESOLVA OS SEUS CONFLITOS DE RELACIONAMENTO
A nossa vida não cresce nem se
desenvolve sem a interação com outras pessoas. Somos seres sociais.
Temos forte impulso para nos relacionarmos e para criar laços que nos
unem às pessoas que consideramos significativas para a nossa vida.
Precisamos de dar e receber afetos, de nos identificarmos com os outros,
de trocar experiências, de partilhar momentos. Toda a nossa vida está
suportada em relacionamentos, íntimos ou não. Se você tem conflitos com
pessoas que considera significativas e se isso faz com se sinta mal,
pondere investir na procura de uma melhoria no relacionamento.
Faça o que tiver ao seu alcance, não permita ser corroído pelos
sentimentos de ausência e de ressentimento, sabendo que nada fez para a
resolução ou minimização do mal-estar.
7 – PRATIQUE A GRATIDÃO E FOQUE-SE NAQUILO QUE TEM DE BOM NA VIDA
Provavelmente considera que a sua vida
tem sido difícil, que tem motivos para se queixar, para estar triste.
Talvez pense que a vida tem sido “madrasta” consigo. E, até pode ter
toda a legitimidade para sentir-se assim. Mas, será que todas essas
considerações ajudam a mudar a sua vida para melhor? Certamente que não. Ao longo do tempo também pode ter criado uma “inclinação mental”
para pensar de forma negativa. Pondere mudar o tipo de pensamentos que o
remetem constantemente para a ruminação da sua bagagem emocional. Esforçe-se para olhar para aquilo que tem de bom na vida. Faça uma lista
das coisas que acha que tem de bom. Provavelmente está a pensar que não
tem nada. Isso certamente será um exagero. Então, faça o seguinte,
escreva numa folha de papel tudo aquilo que se perdesse ou não pudesse
fazer prejudicaria a sua vida. Ahh, agora a lista começa a tomar um
rumo. Sim, claro que tem coisas pelas quais deve sentir-se agradecido.
Então, foque por momentos a sua atenção nisso. O seu humor e motivação
melhoraram? Acredito que sim. Essas são todas as coisas em que
maioritariamente deve focar a sua atenção. Adote uma atitude mais positiva na sua vida, isso aumentará a probabilidade de você fazer acontecer coisas boas e das quais irá ficar grato.
8 – DEIXE DE FAZER AUTOSABOTAGEM E OLHE PARA O SEU POTENCIAL
As deceções, o sentimento de culpa, os conflitos internos, as angústias do passado, a baixa autoestima, os problemas de relacionamento, a atitude negativa, tudo junto contribui para a autosabotagem.
Mesmo que você queira muito sentir-se bem na sua pele e na sua vida,
toda a sua estrutura mental está edificada para virar-se contra você.
Isto porque se você repetidamente está num fraco estado de recursos,
tudo o que faz é afetado negativamente pelo seu estado de ser diminuído,
ressentido, magoado. Se você continuar a sabotar-se, a vitimização irá
instalar-se e, com isso tudo piora.
Olhe para aquilo que ainda tem, tal como
expliquei no item anterior, e perceba que habilidades, conhecimentos,
capacidades, aprendizagens você pode acionar para ir ao encontro de
algum dos seus objetivos e sonhos. Agora que já conhece algumas das
coisas que têm vindo a contribuir para o crescimento da sua bagagem
emocional, está melhor preparado para estabelecer um plano que permitirá
fortalecer-se, e olhar para si mesmo como alguém com capacidade de
construir o seu próprio bem-estar e saúde emocional. Para aprofundar o assunto, leia: 10 ferramentas para alavancar o seu potencial.
9 – ABANDONE O MEDO NA SUA VIDA E PERMTA-SE SER HUMANO
Quando a nossa vida é abalrroada por
acontecimentos de elevado impacto negativo, podemos gerar em nós um
sentimento de medo e com isso vermos grande parte das nossas ações
paralisadas. O medo pode tornar-se inibidor dos sonhos e dos objetivos
de vida. Pode conduzir-nos a excessivos comportamentos de segurança que
nos retiram mobilidade de vida. Não podemos deixar de sentir medo. O
medo é protetor, faz parte de nós. O que podemos fazer é permitir-nos
sentir medo, sem que isso se torne num obstáculo à nossa vida. Se você
sente que o medo está sendo responsável por grande parte da sua bagagem
emocional negativa, perceba que sentir medo é natural. Eu sinto medo,
você sente medo, todas as pessoas sentem medo, isso é ser-se humano. Permita-se ser humano.
Permita-se a ter dias maus, a ter dias de tristeza, a ter dias de
fracasso, a ter dias deprimidos. Deixe fluir as suas emoções e perceba o
que lhe transmitem, fale delas, desabafe, coloque para fora as suas
preocupações. Sentir as coisas, é uma condição humana. Não tem mal
nenhum sentir emoções negativas.
Prejudicamo-nos quando ficamos
“agarrados” demasiado tempo aos acontecimentos negativos e consequentes
pensamentos negativos e emoções negativas. Prejudicamo-nos quando nos
fundimos a tudo isso, e julgamos ser isso, agindo à luz dessa verdade
construída por nós. Permita-se a sentir as coisas, mas ficando retido
nelas apenas o tempo suficiente para voltar a recuperar-se e construir o
caminho de volta à vida que pretende ter.
Fonte: escolapsicologia.com
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