O divórcio não é de fato “o grande vilão” dos problemas emocionais
enfrentados por muitos filhos no processo de separação dos pais. Foi o
que afirmou a juíza Vanessa da Rocha, do Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo, em palestra na I Conferência Nacional de Mediação de
Família e Práticas Colaborativas, realizado pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) na terça-feira (10/12), no auditório do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE). A magistrada contou a experiência da Oficina de
Parentalidade, desenvolvida pela Corte paulista, para ajudar os pais a
lidarem melhor com os conflitos advindos da separação. A iniciativa tem
por objetivo combater a alienação parental.
A magistrada falou em painel presidido pelo conselheiro Paulo
Teixeira, que destacou a importância das práticas conciliatórias.
“Infelizmente somos um povo criado para o litígio. Só acreditamos na
resolução do litígio com a intervenção de um juiz. É importante
estimularmos boas práticas”, afirmou o conselheiro.
Segundo Vanessa, os filhos podem ser resilientes ao divórcio se os
pais souberem conduzir a situação. “O divórcio não é o grande vilão, mas
sim os conflitos mal administrados dos pais. As experiências nas varas
de família nos mostram que pais e mães arrastam os filhos para os
litígios, usando-os como mensageiros e espiões, ou seja, como
instrumentos de vingança para atingir o ex”, afirmou.
De acordo com a magistrada, a Oficina da Parentalidade visa ajudar as
famílias nesse momento tão conturbado. A iniciativa oferece sessões em
grupos para os filhos a partir de 6 até 16 anos. O ex-casal é atendido
em separado, em um único encontro, com duração média de quatro horas, e
com a participação de psicólogos, pedagogos e juízes. “O ex-casal é
separado em grupos mistos, composto por homens e mulheres e nos quais
abordamos os efeitos que os conflitos podem acarretar nos filhos”,
explicou Vanessa, destacando que nas oficinas são exibidos diversos
vídeos com situações de conflitos reais.
“Abordamos também o que os pais podem fazer para os filhos superarem
esse momento. Os filhos têm direitos... o de amar seus pais, de não ter
de escolher um lado. Por isso, ressaltamos para os pais a importância de
validarem o sentimento de seus filhos”, acrescentou.
A experiência tem apresentado resultados expressivos. Segundo
Vanessa, os índices de conciliação dos que não participam das oficias
giram em torno de 50%. No entanto, entre os ex-casais que passam pela
experiência, a taxa sobe para 70%. “Diante da sensibilização, percebemos
a vontade dos pais que participam da oficina em cooperar com o processo
de mediação. E isso faz toda a diferença”, destacou a magistrada.
Ela explicou que a proposta da oficina é transformar qualitivamente a
relação entre os pais e filhos, harmonizando-a. “A alienação parental é
coisa séria. Quem a comete pode até mesmo perder a guarda”, alertou a
juíza.
Fonte: Agência CNJ de Notícias
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